É preciso ensinar a juventude a safar-se no futuro sem emigrar! E nada melhor do que os bons exemplos!
O meu irmão
Há 1 dia
Nas escolas todas, não tardaram em explicar-nos o que significavam todas aquelas palavras que até aí não podiam ser usadas como "democracia", "fascismo" e "sindicalismo". Disseram-nos que ia passar a haver eleições para as pessoas poderem escolher quem iria mandar e isso pareceu-me bom. Apareceram vários partidos políticos e eu achei que o mais giro de todos era o PPD porque era cor-de-laranja e dizia que era social-democrata e eu pensei que era a querer fazer de Portugal uma coisa assim daquelas que há mais lá para o norte onde mesmo que um maluco pare numa ilha a matar pessoas ninguém se põe aos gritos e a desgrenhar-se à porta do tribunal. Era desses que eu queria ser. Aos onze anos. Depois fui para o liceu onde se consumia haxixe e outras porcarias que fazem rir e eu depressa me bandeei para o MRPP e comecei a usar umas botas com atacadores como as da tropa. Não sabia de todo o que andava a fazer mas pelo menos tudo passou a ser a cores e mais divertido (excepto a televisão que continuou a preto e branco até 1980). Todos, mas todos mesmo, acreditávamos no futuro. Claro que, como sempre nessa idade, a visão de nós próprios com mais de trinta anos de idade era uma coisa desfocada e quase irreal, mas acreditávamos que havíamos de ser felizes e não haveria pobres, nem chás de caridade, nem chavalos a ir para a escola descalços e sem terem comido nada, nem pessoas que iam chegar a adultas sem saber ler.O que ninguém nos disse foi que muitos anos mais tarde os portugueses continuariam a emigrar sem saber ler nem escrever para serem explorados como cidadãos lava-pratos apesar de já haver escolas por todo o lado. Que muitos se recusariam a aprender fosse o que fosse e se limitaria sempre a um vocabulário de 50 palavras das quais 40 fariam parte do léxico do futebol. Também ninguém nos disse que muitos anos mais tarde continuaria a haver gente que andava na rua com palitos na boca e a escarrar no chão, boçais incapazes de distinguir uma carroça de bois duma nave espacial. Nem que muitos anos mais tarde a maior parte das pessoas andaria a tentar safar-se à custa da tal democracia. Como se diz em português, "desenrascar-se". Os menos capazes apenas com pequenos subsídios de invalidez e sobrevivência e mais o que fosse preciso para poder passar os dias na tasca a emborcar vinho tinto rasca e não fazer nada, os mais espertos da escola das jotas com grandes subvenções estatais e vencimentos de assessores que lhes permitissem ter grandes carros e apartamentos e contas offshore também sem fazer nada. E que seriam os restantes a pagar tudo isso. Outra coisa que nunca nos disseram foi que a tão aclamada liberdade iria servir apenas, não para exprimir o que se pensava mas sim para estacionar em segunda fila, atirar lixo para o chão e para reservas naturais e cometer crimes vários que ficariam sempre sem castigo. Nem que toda essa confusão levaria a que este pobre e triste povo elegesse como maior português de sempre o maior de todos os mentecaptos e corruptos e tolhidos mentais que este país, apesar de tudo, já viu.
Portugal pode ter que abater centenas de milhares de galinhas poedeiras por as gaiolas em que estas se encontram não cumprirem as directivas europeias de conforto. Ora aqui está uma ideia muito à frente e que, aplicada à espécie humana, pode resolver num instante o problema da pobreza! Só há que ter em vista dois princípios orientadores muito importantes: Primeiro, não seguir a metodologia do Hitler, que tentou fazer o mesmo há 70 anos mais ou menos mas adulterando o processo pois primeiro punha as galinhas nas gaiolas merdosas e depois é que as abatia. Segundo (e não menos importante) é preciso nunca pedir a opinião às galinhas. É muito possível que elas (conhecidas como bicho estúpido) prefiram continuar nas gaiolas sem condições.
Eu acho que o governo devia explicar o que é que quer dizer com essa história de "procura activa de emprego". Bem explicadinho, assim tipo numa portaria mas escrito por alguém que não tivesse a mania que é o cagalhão atacado das letras e soubesse alinhavar duas palavras seguidas numa frase, ou seja, por ninguém que tenha escrito leis até hoje. Porque vai que uma pessoa pensa que anda a fazer procura activa de emprego e afinal anda a fazer procura passiva de emprego? Assim do nada, sem saber? Porque os termos activo e passivo são mais ou menos pacíficos em certos campos semânticos não é? Por exemplo, a gente sabe qual é o que leva no pacote e qual é o que deixa levar, mas assim aplicado à procura de emprego não estou a ver...