6/20/2005

NUMA AVENIDA DE MERDA (Didas's version)

O Bagaço lançou o desafio e eu, como ando a fazer colecção dos filmes dele, preferencialmente à borla, mas inspiração é coisa que nem sempre abunda por estes lados, produzi esta pérola que aqui vai em baixo. Quem achar que é capaz de fazer melhor... faça!

"Passava sempre lá no caminho para a escola.
Era uma avenida ladeada por largos passeios com árvores plantadas a espaços aritmeticamente certos e a trepar pelo tronco de cada uma delas, uma roseira.
Todos os dias eu colhia uma pequena rosa, que eram às centenas, e pensava que aquela era uma bela avenida, especialmente nos dias de sol. Depois fazia o resto do percurso entretendo-me a destruir a flor entre os dedos até as minhas mãos adquirirem aquele cheiro de natureza morta que atrai estranhamente as crianças.
Naquela avenida não havia prédios de apartamentos, só moradias previsíveis e no alinhamento certo, como as árvores. Lá moravam as pessoas abastadas da minha pequena cidade.
Na pureza absoluta da minha juventude não me tinha apercebido, ou não tinha dado importância, ao facto de toda a gente na minha cidade pequenina saber quem eram as pessoas que ali moravam, os nomes quase sempre precedidos de títulos, sobrenomes e histórias. E que nas conversas de circunstância se falava sobre aquelas pessoas porque conhecer alguém que ali morasse era uma das formas de se garantir um lugar a seguir na ordem estabelecida.
E eles saíam e entravam das suas casas com o ar despreocupado de quem sabe que nada muda.
E eu só muito mais tarde me apercebi com estranheza que aquela avenida larga banhada pelo sol e com cheiro a rosas, na verdade, fedia."

4 comentários:

Anónimo disse...

As aparencias enganam.....e normalmente aquilo que parece, costuma trazer mtas surpresas

Anónimo disse...

no fds entrego-te oficialmente o grande prémio...

Didas disse...

Com cerimónia? Sim? Sim?

Margarida Batista disse...

belíssima pérola
nem me atrevo a melhor
e quanto à avenida, tenho a ideia de já lá ter passado