12/06/2006

NATIONAL GEOGRAPHIC - EPISODE NINE - O HOMOAUTO

O homoauto é a criatura que resulta da simbiose entre o macho da espécie humana e o automóvel. É fundamental que o ser vivo envolvido seja macho, caso contrário continuará a verificar-se a existência de duas criaturas distintas, uma das quais (o automóvel) verá toda a sua existência reduzida à categoria de sucata desprezada.
O homoauto distingue-se por todo um conjunto de valores que só estão presentes, em todo o reino animal, vagetal ou mineral, nesta espécie. Vamos a seguir enumerar esse conjunto de valores:

1. A marca - O homoauto possui sempre disponível no cérebro uma lista infindável de informações de acesso imediato (memória RAM), que incluem coisas como o preço das diversas peças em cada marca, o tempo de demora de cada um dos fornecedores em caso de avaria, a fiabilidade de cada peça em cada marca, a qualidade da assistência, o tipo de garantia e o preço de cada modelo dentro de cada marca, tudo isso sem hesitar. O homoauto sabe também qual o equipamento de série de cada modelo da cada marca sem pestanejar. Até hoje, nenhum cientista conseguiu descobrir quais os mecanismos biológicos ou não que permitem ao homoauto armazenar tal quantidade de informação, especialmente tendo em conta que nenhum deles é capaz de responder a questões básicas como as cores fundamentais da colecção primavera-verão ou quantas lojas já entraram em saldos no forum, mesmo que lhes seja dado um tempo considerável para tal tarefa.
2. A limpeza - O homoauto mantém os seus componentes não biológicos impecavelmente limpos. Já os biológicos, depende do espécime e do grau de exigência da fêmea que lhe esteja associada no momento. O homoauto rural ou suburbano tem até o hábito de efectuar a operação de limpeza em plena via pública, munido de mangueiras, panos e baldes, obrigando todo o trânsito a desviar-se. Já o homoauto urbano não tem este hábito, mas unicamente porque não pode.
3. Os acessórios - O homoauto gosta de se personalizar. Para tal, utiliza acessórios vários que valoriza sobremaneira como jantes, frisos, tapetes, autocolantes e objectos diversos que pendura no espelho interior. Alguns exemplares acrescentam acessórios alusivos a um clube como cachecóis, bandeiras e bandeirinhas.
4. O tempo dos zero aos cem - Ainda ninguém percebeu o valor deste item. Na verdade, um homoauto que vai dos zero aos cem em 7 segundos pouco mais vale em termos absolutos do que um que vai dos zero aos cem em 20 ou 30 segundos. A única mais-valia desta característica poderia residir no facto de todos eles terem que andar permanentemente a fugir à polícia, o que na verdade não acontece porque ter um QI abaixo de 100 ainda não é crime nem dá pena de prisão.
5. A chapa - O homoauto consegue descortinar, na chapa, riscos e amolgadelas não visíveis a olho nu. Supõe-se que se trate de um poder de visão raro que as fêmeas não possuem. Para cúmulo, o homoauto chega mesmo ao ponto de mandar arranjar riscos amolgadelas que mais ninguém vê e a pagar por esse serviço.

E são estas as características fundamentais desta espécie. Para a próxima, debruçar-nos-emos sobre a cria humana.

A equipa de cientistas do National Geographic deseja a todos um feliz Natal e deixa-vos

O POSTALINHO N.º 8

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2 comentários:

ZekezCarvalho disse...

Mais um excelente post - quase ao nível do dos utentes dos serviços público. Como "homo não auto" (acho que o automóvel é apenas um instrumento mecânico que serve para me deslocar mais depressa, e não um prolongamento da minha personalidade, sinto-me particularmente gratificado. E olho pela janela desta fria manhã de sábado - e lá está o meu irritante vizinho Filipe, munido de uma panóplia de baldes e mangueiras a lavar o seu Fiat Marea como se fosse uma obra de arte.

Didas disse...

E ficou bem lavadinho?