3/22/2008

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

Sem exagero nenhum, acho que nunca ninguém, em toda a história da humanidade, teve hipótese de assistir a tantas mudanças e tão radicais como a minha geração. Senão vejam.
Quando eu andava na escola primária:


- Um telefone era um objecto preto enorme, com uma roda de buracos que tinha que se girar para ligar para qualquer lado.

- Um telemóvel... não era nada que alguém imaginasse vir a existir.

- Um computador era uma coisa do tamanho duma sala de jantar, de onde saíam rolos de papel perfurados só decifráveis por criaturas com cérebros extraordinários e que só existiam nos filmes de ficção científica a preto e branco.

- Uma televisão era uma coisa que demorava uns cinco minutos a aquecer antes de transmitir qualquer som ou imagem, a preto e branco e só com um canal disponível.

-Um controlo remoto era uma coisa que a gente desejava que alguém inventasse quando estava com muita preguiça. Ainda assim, imaginávamo-lo com fio.

- A roupa era mandada fazer nas costureiras. Ninguém imaginava que se pudesse ir a uma loja onde já houvesse roupa feita à disposição.

- Portugal era um país com colónias e toda a sua população vivia na ilusão de ser invejada por todo o mundo graças aos seus heróis e à sua grandeza.

- Um relógio era uma coisa com ponteiros a que tinha que se dar corda todos os dias.

- Quase metade da população não sabia ler... nem sabia fazer de conta que sabia ler porque não conhecia as letras.

- A coisa mais grave que podia acontecer a quem praticasse sexo não seguro era ficar grávida ou ser excomungada.

- Ninguém imaginava que se pudesse gravar um filme em casa.

- As máquinas fotográficas levavam rolos que tinham que se colocar em salas às escuras e eram a preto e branco.

- No verão fazia calor e no inverno fazia frio.

- Um transplante era arrancar uma planta dum sítio e voltar a plantá-la noutro.

- O Benfica e o Sporting ganhavam campeonatos.

- Ir daqui a Lisboa demorava umas cinco ou seis horas de carro.

- Não havia espécies protegidas porque também não havia espécies em risco.

- Ser civilizado era não atirar o lixo para trás das costas nem pela janela. Reciclar era apenas usar as coisas muitas vezes porque não havia dinheiro para comprar outras.


E mais coisas que agora não me lembro.

14 comentários:

anarresti disse...

ainda me lembro da primeira vez que vi a internet. estava numa aula de informática, no secundário. depois de uma semana de preparação o professor lá conseguiu projectar a imagem de um computador numa tela (não havia data shows, como agora). lá ligou a coisa, e ficámos, aborrecidos a olhar para um ecrã preto, com um cursor a piscar. depois de alguns minutos a escrever passwors, e logins e coisas do género o professor fez um ar triunfal. "pronto, estamos ligados". explicou que aquilo era algo fantástico, que ligava universidades, polícias e outras instituições em todo o mundo. o que nós víamos era apenas letras brancas em fundo preto, no ambiente do unix, sem imagens nem cores. lembro-me de achar aquilo uma seca. e de pensar, esta coisa da internet nunca vai dar em nada. passados poucos anos, surgiu a www. e tudo mudou. (eu nunca fui muito bom a fazer previsões)

abraço,
(e obrigado pela visita)
nuno.

Didas disse...

Eu cá nunca vi a net assim, poupei-me a uma grande desilusão.

Dona Ju disse...

Ainda me recordo dos telefones enormes, de as crianças nao brincarem com as coisas a nao ser bonecas, carrinhos e jogos inventados na altura ou berlindes, pioes ou macaca. Enfim os tempos mudaram e agora as crianças ja nem sabem o que é isso.

Mas se recordamos mais um pouco devem aparecer imensas coisas que nunca pensamos que iriam existir.

Didas disse...

A nostalgia é uma cena lixada, lol!

António Conceição disse...

Tudo o que diz é verdade, mas muito do que diz foi evolução tecnológica, de certo modo, expectável.
A evolução mais espantosa foi ao nível dos valores religiosos. Desapareceram.
Na nossa infância, as rádios silenciavam-se na quinta-feira santa e, até domingo de Páscoa só transmitiam música clássica. A televisão, idem. Havia uma atmosfera geral de recolhimento e o lembrar-se alguém de se rir por esses dias era, só por si, um pecado mortal que condenaria o engraçado às eternas penas do fogo.
Hoje, estou convencido que não houve discoteca do país que na passada sexta-feira à noite não tivesse organizado a sua festa do cruxificado e ninguém com menos de 70 anos, absolutamente ninguém, se lembrou de vestir neste domingo uma roupa nova, por ser dia de Páscoa.

Didas disse...

Beatice ainda há... isso ainda há... digo eu.

Anónimo disse...

O telefone preto era giro, apesar de magoar os dedos.

Didas disse...

Sim, aquilo era quase um objecto de preversão sexual.

saltapocinhas disse...

eu tenho um telefone desses a ainda funciona bem!

-pirata-vermelho- disse...

Tem a certeza de que dispunha da noção geral de reciclar?

Não... o lixo metia-se em caixotes, 'ia pro lixo' e não se pensava mais nisso!

Didas disse...

Saltapocinhas, eu só não tenho porque mudei de casa!

Pirata, nós não lhe chamávamos reciclar... ao usar as coisas outra vez... era só não ser "estragadeira". Lol!

Moika disse...

Ooopss!

Acho que estou a ficar velha! É que eu lembro-me duma data de cenas que escreveste...

NNNNÃÃÃÃÃÃOOOOOOOO!!!!!

Didas disse...

Olha olha! Contenta-te com a minha sorte que também me lembro de tudo, lol!

cereja disse...

Excelente o teu texto/post, não sei como lhe chamar. Em tempos circulou em FW um que tinha muito menos piada.
Já devia ter dito, mas linkei-o lá no meu cantinho das coisas de que gosto.