4/07/2008

E AFINAL O QUE É A ARTE?

A forma como vivemos define a forma como vemos a arte. Eu explico. Se eu tenho que ir trabalhar todos os dias, e tenho; se dispensava de bom grado as chatices que tenho que resolver diariamente para me pagarem o ordenado; se sei à partida que nunca, mas nunca, posso ceder à tentação de ficar de manhã no meio dos lençóis, faça frio ou faça sol; não consigo sentir mais do que alguma náusea quando entro numa exposição de suposta arte e vejo bonecos e bocados de lixo colados numas tábuas. Principalmente tendo eu a certeza que os colaria da mesma forma ou até melhor, e que só não vivo da actividade de fazer colagens e coleçcões de esterco vário porque não tive o percurso certo, nem pertenço aos lobbies certos. Faço então a minha visita oscilando entre risos de "valha-me Deus" e "puta que pariu estes gajos" rosnados entre dentes quando vejo uma peça que, em termos práticos, não se distingue por aí além da mangueira de emergência que está mesmo ao lado, mas sem etiqueta.
É chegado aqui o momento de fazer um parêntsis para aqueles que comentarão qualquer coisa no sentido de "sim, a arte não é para todos". Esses, dividem-se entre os que ainda não levaram porrada suficiente da vida, os chamados pissos líricos (sim, também já passei essa fase), os que aspiram a ser considerados gajos extremamente inteligentes e cultos sem que na verdade percebam um boi daquela merda e os que simplesmente fazem parte do grupo e que, portanto, têm que defender aquilo. Não passa por aqui o grau de cultura do visitante, até porque estou a excluir à partida deste texto os que estão fora desta pirâmide, seja por não saberem ler nem escrever ou porque sabendo, não ultrapassam o grau rudimentar da revista Caras. Sim, meus amigos, eu também estudei história de arte, também leio livros, também visito museus e já fiz quilómetros só para ver a Guernica de perto.

Também sei que alguns dirão (se tiverem a pachorra de ler isto até ao fim), que a arte não está em colar um brinde da McDonalds numa tábua, ao lado duma senhora de fátima e mais umas tralhas, está em ter tido a ideia de o fazer. Até admito que sim, aliás, admito inteiramente que sim. Mas não me parece ver novidade alguma ou qualquer ideia brilhante na maior parte das exposições de arte contemporânea que visito. Esses, são apenas os que vivem à pala da nossa palermice.

Ah, pois, este fim-de-semana estive em Serralves. A pá gigante no jardim até está gira.

7 comentários:

mfc disse...

Não aprecio muito a arte abstracta.
Gosto da arte concreta... por exemplo sair-me o totoloto!

RM disse...

Um realista (e corajoso) retrato do estado da arte da nossa "arte"
Raul Martins

Didas disse...

Isso sim Mfc, era arte concreta. Lol!

A nossa arte, Raul, que depois nem sequer aparece quando vamos a museu estrangeiro. Nada, zero, é como se nada existisse. E tão inchados que nós andamos sempre!

saltapocinhas disse...

eu vi na televisão.
o que vi bastava para não pôr lá os pés pessoalmente...

ao contrário de ti, pouco entendo de arte, mas sei do que gosto e do que não gosto (até posso gostar do que seja piroso para ti mas para mim não é!)

mas aquela exposição de lixo, não acredito que alguém gostasse!
e nem concordo contigo quando dizes que vale pela ideia... é que realmente há ideias que não faziam falta nenhuma se não existissem!

Alírio Camposana disse...

Afinal o que é a Arte?

Citando Nietzsche: «É fundamental manter o poeta no seio da comunidade, para que ele possa ser a negação do Estado, para evitar que a mentira do Estado se torne a justificativa da vida. Para que vigilante, vele pelo sentido real da existência»

Cumprimentos.

Didas disse...

Saltapocinhas... calma rapariga, lol!

AVC, então é assim que eles nos lixam?! Onde é que a gente se inscreve para poeta? :)

Alírio Camposana disse...

Amiga Didas este blog é poesia... Capice?