Era fim de tarde. O puto de mochila às costas e casaco à cintura saiu do carro e correu para o parquímetro. Meteu um euro e recolheu o tiquet de estacionamento. Enquanto isso, a mãe tirava sacos de compras do porta-bagagens, alheia a tudo. Com o mesmo entusiasmo com que tinha corrido para o parquímetro, o garoto correu de volta para junto da mãe.
- Olha! - disse ele orgulhoso enquanto mostrava à progenitora a sua mais recente aquisição.
- Tu gastaste o euro que eu te dei a tirar um tiquet de estacionamento??? - respondeu-lhe ela entre o estado de furiosa e o de incrédula - Tu estás bem da cabeça???
Numa última tentativa de justificar o acto que tanta satisfação lhe tinha dado, o miúdo ainda argumentou:
- Eu já tenho muitos!...
E eu assistia da minha janela a este momento fatídico em que uma mãe morta de cansaço dum dia de trabalho e de super-mercado, a sair dum carro estafado, descobria que o filho gastava todas as suas moedinhas a tirar dos parquímetros tiquets de estacionamento que coleccionava como se fossem cromos da bola.
- Anda para dentro que já falamos! - foi a última frase que ouvi antes de ambos entrarem no prédio, ele derrotado de cabeça baixa, com aquele ar com que as crianças ficam quando descobrem mais uma crua realidade daquelas que lhes vão remendando os bocados que farão delas adultos.
Neste caso, a de que um parquímetro não é um brinquedo mas um inimigo a evitar. Paciência, é assim a vida.
Fui para dentro também.