5/31/2004

NOVO ESTABELECIMENTO

Hoje venho aqui anunciar que, além desta modesta padaria, passo a partir de hoje a contar com mais um estabelecimento, desta feita na área da restauração.
Este novo estabelecimento é, tal como o actual, limpo e asseado, embora de ambiente mais requintado.
Este empreendimento é realizado em sociedade pouco anónima e nasceu de um gosto comum às duas partes por ir para a cozinha inventar, sujar toneladas de loiça, deixar tudo num verdadeiro estado do sítio e, por vezes, até sair qualquer coisa de jeito.
Para já ainda estamos a servir um único prato. Porém contamos alargar o menu brevemente. Daremos no entanto primazia à qualidade sobre a quantidade, o que não acontece neste velho estabelecimento em que as fornadas saem em catadupa, umas doces outras amargas, umas salgadas outras nem por isso, umas com outras sem veneno.
Convido-vos então a acompanharem-nos nas nossas aventuras e desventuras culinárias.

5/28/2004

OS CUSQUÍLEOS

Contaram-me ontem esta história, que se passou com o namorado duma amiga minha, e eu achei-a tão linda que resolvi que tinha que figurar no farinha.
Reza então assim:
O rapaz, há uns anos atrás, entrou para a universidade numa cidade que desconhecia completamente e hospedou-se numa casa onde já morava um grupo daqueles armados em espertos ao estilo "comemos caloiros todos os dias ao pequeno-almoço".
Logo no primeiro dia, com o pretexto de o integrarem na vida da cidade e lhe darem a conhecer os hábitos e tradições locais (tão queridos!), ensinaram-lhe que o doce regional da terra era os "cusquíleos" e que estes eram realmente deliciosos.
Perante a curiosidade do rapaz e numa demonstração de boa vontade, puseram-lhe 5 contos na mão (ainda foi no tempo do dinheiro antigo) e disseram-lhe que fosse à pastelaria do rés do chão e comprasse meia dúzia deles para o lanche. Eram eles que ofereciam.
O rapaz lá foi, sem saber que tal doce não existia e muito menos que toda a gente na dita pastelaria conhecia a marosca pois já era hábito por lá aparecerem caloiros a pedir aquilo.
De facto, quando ele disse "Queria meia dúzia de cusquíleos" a risada foi geral no estabelecimento. E o pobre lá saiu de cabeça baixa, com vontade de se enfiar num buraco. Só que, num rasgo repentino de inteligência que só os caloiros têm porque depois, como todos sabemos, vamos ficando cada vez mais estúpidos, olhou para a nota que tinha na mão, fez uns rápidos cálculos mentais e voltou para trás.
_O que é que vendem aí que custe mais ou menos 830 escudos?
E lá lhe venderam uns bolos intragáveis feitos de figo ou qualquer coisa assim irreconhecível, que ele levou para casa. Entrou com ar satisfeito, pousou o embrulho e, perante o ar apatetado dos outros declarou:
-Cá estão os cusquíleos. Vamos lanchar?
-Mas... isso não existe...
-Não existe como? Eu pedi meia dúzia de cusquíleos e deram-me isto! E olhem! Foi uma sorte porque o dinheiro chegou por um triz!
Com cara de cu ficaram os outros, que tiveram que fazer uma vaquinha para pagar aquele lanche que bem caro lhes custou. E não voltaram a entrar na pastelaria, convencidos que o dono os tinha fintado.
É caso para dizer "Toma lá que já almoçaste!"... No caso concreto, cusquíleos.

5/27/2004

GET IT UP!

É habitual a primeira música que ouvimos no dia ficar a matraquear-nos na cabeça, não é?
Pois eu hoje tive azar. Quando liguei o rádio do carro a caminho do emprego estava a tocar uma "coisa" cuja letra era esta:

You know well what I like
In the middle of the night
So
Get it up!
Get it up!
Get it up!
Don't you want it?
Get it up!
'cause you know well what I like
In the middle of the night.

Gostaram? É lindo não é?
Agora traduzam e imaginem a Mónica Sintra a cantar isto no tal dueto que ela quer fazer à força toda com a Celine Dion! É de aplaudir de pé!
Ai Didas Didas, só fazes filmes...

5/26/2004

RECTIFICAÇÃO

Depois do post de hoje de manhã recebemos vários telefonemas das catequistas aderentes à campanha, queixando-se de que tinha havido um engano da nossa parte.
De facto enganámo-nos nas fotografias. As fotos do post anterior não são da Sãozinha, da Felismina nem da Adelaidinha mas sim de uma pasta que eu tinha por aqui algures e que o meu chefe me tinha pedido para guardar. Acho que são para uma apresentação qualquer sobre geoestratégia militar.
De facto tenho que começar a ser mais organizada porque esta secretária é uma confusão que só visto, depois dá estes resultados.
Agora sim, a pedido de várias famílias, aqui estão as fotografias correctas.





SOU OU NÃO SOU BOAZINHA?

Numa demonstração inequívoca de devoção e boa vontade, dedico este post ao mais recente cliente deste estabelecimento, o anónimo Tranglandum.
Para levar a cabo esta imensa tarefa de fé e dedicação lancei uma campanha junto das catequistas aqui da paróquia, que responderam em massa. E foi tal a adesão que tive que seleccionar apenas três, cujas fotos aqui se reproduzem. São elas a Maria da Anunciação, a D. Felismina e a Menina Adelaide. Obrigada meninas. Muitas outras no entanto quiseram colaborar, encontrando-se ainda a esta hora à minha porta em paciente fila, à espera da sua oportunidade.
Se isto não convencer o Tranglandum da minha imensa admiração pela religião católica, aqui, aqui, aqui e aqui vão alguns sites que revelam todo o esplendor dessa maravilhosa instituição.
E que o Papa seja louvado, pois fez anos há uns dias e até o Cherne lhe cantou os parabéns. Desejamos ardentemente, aqui no Farinha, que o velhinho tenha conseguido passar por essa provação sem ter piorado a sua já débil condição clínica.




5/25/2004

E MAINADA!

Hoje pela manhã, quando estava na pastelaria do costume a tomar o meu café, ouvia (porque os decibéis tornavam impossível não ouvir) a conversa de duas amigas na mesa ao lado:
- E "bai" eu "disse-le", oitocentos escudos à hora, "num" trabalho por menos!
- "Fizestes" muito bem! Querem a casa limpa limpem-na... ou "atão" paguem!
A dada altura uma delas lembrou-se que estava há demasiado tempo à espera da torrada, virou-se para trás e gritou para a menina que estava ao balcão, a uns cinco metros de distância:
- Oh menina "atão"?
E a menina, atrapalhada:
- Está quase...
- Tanto tempo! - continuou a queixosa - Eu já me tinha "bindo" duas "bezes" ou mais! Foda-se!

... é por isso que ser do Norte tem outro encanto...

:-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-) :-)

E já agora passem por aqui para verem as minhas flores, que eu, Didas, semeei com estas mãozinhas! ------------>>>
Estou muito orgulhosa!

5/24/2004

MOLICEIROS

Gosto de ver a simplicidade com que algumas pessoas passam pela vida, sem complicações.
com a serenidade de quem sabe que está apenas a fazer uma passagem.
Porque não usar o mesmo meio, a mesma forma e o mesmo suporte para elevar o espírito...

e para elevar a carne?

5/21/2004

A MARIAZINHA



Isto deve estar-me no sangue. A verdade é que quando entrei para a catequese aos seis anos de idade, mesmo não tendo qualquer noção de ideologia política ou filosófica anti-clerical, entrei contrariada.
Calhou-me a Mariazinha.
A Mariazinha era a catequista mais escandalosa da paróquia. Numa pequena aldeia, em plena vigência da regra "Deus Pátria Família", a Mariazinha maquilhava-se com exagero de preto nos olhos e vermelho nos lábios, tinha uma cabeleira negra e rebelde que usava solta pelo meio das costas e aderira de alma e coração à inacreditável estrangeirice da mini-saia. Usava botas pretas de cano e salto altos e cruzava as pernas quando se sentava à nossa frente para nos ensinar, com voz doce, que Deus era o nosso pai do céu e outras baboseiras das quais obviamente não me lembro.
As mulheres da aldeia comentavam à boca pequena como era possível que uma rapariga daquelas estivesse a dar catequese às crianças. Mas só à boca pequena porque o padre, que era quem tinha o poder de decidir quem era ou não digno de crédito no lugar, não admitia qualquer reparo sobre a sua catequista preferida, o que era o suficiente para que todos se calassem, mesmo a respeito das horas suspeitas a que a Mariazinha era vista a sair de casa do Sr. Prior.
Para nós, miúdos imberbes ainda em fase latente, a Mariazinha era apenas linda "como uma Nossa Senhora".
E foi com esse sentimento e também com a certeza de ir proporcionar à minha mãe a alegria de finalmente me ter convertido aos encantos da religião católica que um dia cheguei a casa e declarei radiante:
-Quando for grande vou ser como a minha catequista!
A minha mãe estava a lavar a loiça e, sem sequer desviar os olhos do trabalho, respondeu secamente:
-Está calada, que tu não sabes o que dizes.
Tive que andar seguramente mais meia-dúzia de anos cheia de dúvidas e desiluções até compreender o que se tinha passado.
Claro que nunca cheguei a ser como a Mariazinha. Era só o que me faltava, dar em catequista!...

5/20/2004

NO MUNDO DO FAZ DE CONTA

Sabem qual a diferença entre a Virgolina Tetas (rapariga entrada no peso e na idade que ataca na Lourenço Peixinho) e a Letizia Ortiz?
.......
O preço.
.......
Porque de resto, ambas se esforçam além do razoável para satisfazer a vontade dos clientes e ambas têm, tiveram e/ou preparam-se para ter, uma puta de vida.
.......
.......
E ainda sobre o evento do próximo sábado...
De vez em quando há coisas que ilustram tão bem a pequenez deste nosso país que até me incomodam.
Depois de amanhã vamos ter a oportunidade de assistir ao espectáculo decadente duma velha tonta, com delírios em que julga ser a rainha dum jet set que não existe, a comentar um casamento para o qual bem gostaria de ter sido convidada mas não seria de forma alguma, nem como criada.
Para cúmulo, a frase mais complexa que a criatura consegue dizer sobre o assunto é: "Este casamento vai ser super importante ao nível de tudo!"
.......
Não sei porque me deu hoje para falar do casamento do Príncipe Felipe. Devo estar particularmente romântica, sei lá, isto tem dias...

5/19/2004

COMIDA EM AVEIRO

Dando satisfação aos muitos milhares de fãs que nos exigiram um post sobre os melhores tascos de Aveiro, resolvemos abrir uma excepção à nossa regra de postar apenas uma vez por dia.
Pronto, ok, não foram milhares de fãs, foram um pouco menos... Pronto está bem, foi só um. Mas todos os nossos clientes merecem consideração!

Então aqui vai:

Melhores ovos moles: Ovos Moles de Aveiro - Rua D. Jorge Lencastre, 37.
Melhor restaurante: Escolho um carnívoro apesar de dizerem que isto é uma terra de peixe, porque sou carnívora. Mainada. Restaurante La Mamaroma, Cais do Alboi, n.º 21.
Melhor padaria: Farinha Amparo

E agora fico à espera que os dois primeiros me agradeçam a publicidade à borla que isto não é a da Joana... que essa sim era santa, pelo que dizem.
NÃO FUI CONVOCADA

Ontem, finalmente, foi revelada a lista dos convocados para a selecção no Euro 2004. E ainda bem, porque eu confesso que andava um bocado preocupada. Isto porque há uns meses atrás tinha recebido em casa uma carta acompanhada dum autocolante, a dizer que estava convocada.
Na altura pedi imediatamente ao Sr. Scolari que me "desarriscasse". Não porque eu não me achasse à altura dos demais ou porque não fosse capaz de fazer pelo menos tão bem como eles têm andado a fazer. Nada disso. Só que eu tinha outros motivos bastante fortes, a saber:
- Não curto andar com os joelhos esfolados, aquilo a ver-se por baixo das meias dá muito mau aspecto.
- Não curto chuteiras. Já tenho o pé e o músculo da perna feitos aos saltos altos.
- O corte daqueles calções não me favorece nada.
Felizmente, o Sr. Scolari fez-me a vontade e eu vou ser substituída por aquele rapaz... como é mesmo o nome dele?... É isso! Luis! Luís Figo!

5/18/2004

COIRATOS, HOMOSSEXUALIDADE E OUTROS

A propósito de um post que li neste estabelecimento no dia 23 de Abril e no qual fiquei a meditar seriamente, resolvi passar à acção, tirar as mãos da farinha, limpá-las ao avental, tirar o lápis da orelha, pegar no livrinho dos calotes e desenvolver a minha teoria pessoal acerca da homossexualidade, aqui encostada ao balcão, enquanto não entra nenhum cliente. Teoria científica, como se vai ver. O John Thorp que se cuide!

Problema de partida:
Em que medida a homossexualidade ou qualquer outro comportamento não observável na maioria-padrão pode ser considerado uma doença/aberração/opção de vida?

Hipótese:
Em nenhuma.

Método utilizado:
Analogia.

Descrição:
Começámos por listar todos os comportamentos/características verificados apenas em minorias e mencionar à frente de cada um a respectiva designação, conforme segue:

Pessoal que gosta de sandes de coiratos - Sem designação própria
Pessoal que gosta de blazers axadrezados em tons bebé - Sem designação própria
Pessoal que gosta de ficar acordado toda a noite a ver filmes repetidos na TV Cabo - Sem designação própria
Pessoal que gosta de levar e/ou dar umas palmadas - Sado-Masoquistas
Pessoal que gosta de ver outro pessoal a praticar sexo - Voyeurs
Pessoal que gosta de se vestir com indumentária própria do sexo oposto - Travestis
Pessoal que gosta de ir para o parque abrir a gabardine quando passa por outro pessoal - Exibicionistas
Pessoal que gosta de praticar sexo com pessoal do mesmo sexo - Homossexuais

Observação dos resultados:
Verifica-se haver importantes lacunas na criação de termos específicos e adequados para designar uma série de comportamentos não adoptados pela maioria, parecendo-nos revestir-se de especial gravidade o caso do pessoal que come sandes de coiratos.
Verifica-se também que em todos os casos em que já existe designação, o comportamento a que esta se refere é sempre de carácter sexual, o que demonstra cientificamente que o sexo é um assunto que agrada sobremaneira à maioria que, no entanto, tem dificuldade em lidar com o assunto, catalogando de imediato tudo o que lhe baralha os neurónios.
Experimentámos então imaginar o que aconteceria se, por um qualquer acaso, fosse mesmo atribuída uma designação específica ao pessoal que gosta de sandes de coiratos. Fomos mesmo mais longe e tentámos imaginar a que conclusões chegariam os cientistas que resolvessem dedicar toda a sua vida ao desiderato de descobrir se essa característica seria ou não inata e se poderia ou não ser considerada uma doença ou apenas uma questão de gosto pessoal.
Imaginámos o que pensaria a maioria quando descobrisse a quantidade de subsídios que se andavam a distribuir aos ditos cientistas para estudar semelhante questão, bem como o que aconteceria quando os governos decidissem legislar sobre o assunto, ficando estabelecido que os indivíduos que padecessem desse mal não poderia comer as suas sandes em pão de trigo mas apenas de mistura e chegámos à conclusão de que haveria um motim à escala mundial (já para não falar da falência do nosso estabelecimento).

Conclusão final:
Andamos mesmo todos alucinados e fazemos tudo ao contrário do que é natural. Ou seja, em primeiro lugar inventamos uma designação para aquilo que nos incomoda e depois é que decidimos que, já que aquilo tem um nome, tem que ser estudado e legislado seriamente.

E pronto. A comunidade científica está em alvoroço com esta grande descoberta, só que eu tenho ali uma fornada de pão a sair e tenho que ir tomar conta.
Quando resolverem entregar-me o prémio nobel podem deixar por baixo da porta. Sou brilhante, porra!


5/17/2004

BANHADA

A Nossa Senhora de Fátima deu-nos a segunda banhada.
A primeira foi em 1917. A segunda foi agora e o grande Mário Barroso foi o instrumento do qual se serviu para os seus intentos.
Amen.

Se sofrerem do coração, não vão ver o filme.

É emoção a mais. Não sei se vão aguentar. Como por exemplo na cena em que entra um tipo pela casa da Salomé e do marmanjo dela, de surpresa, desata aos tiros, mata primeiro a ele e ela fica assim com um ar de "Ainda bem que não sou eu que vou limpar isto... Bem... querido, txauí hein? Foi fixe enquanto durou!"

Agora vou almoçar, ou seja, não vou. Vou dar uma voltinha pela cidade à procura dos tais castanheiros da índia, que o comment do Catch Up no post anterior já me deixou aqui num stress.



Amanhã digo qualquer coisa. Hoje não, que eu tenho esta regra de só um por dia! Nada de exageros!

5/15/2004

JÁ REPARARAM...

Que em quase todas as vilas e cidades deste país nos passeamos habitualmente por cima de desenhos feitos de pedras azuis e brancas, de suor, calos e dores de rins?

Há alguns anos começou a ser construído na Praça Marquês de Pombal em Aveiro um estacionamento subterrâneo que iria implicar a destruição de vários desses desenhos, que já ali estavam desde a década de 40. Muitas pessoas nem ligaram, outras (poucas) entraram em pânico ao saber que iam tirar dali aquelas pedras que elas viam desde que se lembravam de existir e que eram uma parte do seu "sentir-se em casa".

Entre essas pessoas estava eu.

E durante vários meses, numa primavera que foi fria e chuvosa, um grupo de cinco pessoas, por acaso todas mulheres, fotografaram, numeraram e juntaram em inúmeros saquinhos milhares e milhares de pedras que constituiam desenhos na calçada.

O estacionamento foi feito. E a calçada foi reposta, tal como era antes.

Já houve um tempo em que, ao olhar para aquela praça eu pensei: "Didas! És a rainha das patetas!" - porque o único agradecimento que tivemos foi uma espécie de -"Estão a ver? Somos bonzinhos! Deixámo-vos tirar as pedras dali!"

Agora já não penso assim.
Penso que sou irremediavelmente uma sonhadora, mas que isso não é assim tão mau. E se é verdadeiro aquele lugar comum que diz que devemos deixar o mundo um pouquinho melhor do que o encontrámos, então esta foi uma das minhas contribuições para isso.

E a Praça está lá. Tão bonita como antes. Se forem a Aveiro façam-lhe uma visita e lembrem-se da tolinha da Didas.

5/14/2004

AINDA NO RESCALDO DE FÁTIMA

Lembrei-me de uma espécie de cruzamento oratório/caixinha de música que a minha avó tinha quando eu era canuca. Foi adquirido em Fátima e, tal como hoje, era do mais puro estilo kitch não intencional. Uma espécie de capelinha azul escura, com lâmpadas que acendiam e apagavam a emoldurar a porta. Lá dentro a imagem da dita santa, com a habitual coroa, em cima de uma núvem plástica. Quando se abria a porta tocava o "Avé Maria".

Eu gostava de brincar com aquilo. Abria a portinha, escondia-me atrás do sofá a uns três metros de distância, com uma bolinha de trapos na mão, e mentalmente decidia em que momento da canção é que ia fazer a porta fechar-se, levantando-me de trás do sofá e atirando a bola.

Se conseguisse fazia um ponto. E ia contando os pontos uns atrás dos outros nas minhas tardes de brincadeira solitária na casa da minha avó.

O oratório não durou muito.
A fé da minha avó pela Nossa Senhora de Fátima também não, por motivos que nada tiveram a ver com o meu ímpeto destruidor de objectos de culto religioso.
...
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É preciso salientar aqui que nesse tempo ainda não tinham inventado a playstation.

5/13/2004

MAIS UM MILAGRE DA SANTA

E neste dia 13 de Maio estreia, por acaso, o filme de Mário Barroso, "O Milagre Segundo Salomé", que é por acaso director de fotografia porque quando andava na escola de cinema nem sabia que lá se tirava esse curso:-"Está a ver, eu fui à secretaria, perguntei à senhora que lá estava, que cursos é que se tira aqui? Ela disse-me uns poucos mas não me disse todos e só quando saí de lá já com o canudo é que me disseram que aquela merda era para director de fotografia. E vai eu, mas eu quero ser realizador! Pronto, pronto, o tio trata de tudo, deixa lá!"
E este filme é provocatório? -"Provocatório? Não me comprometa amigo! A padralhada, hoje como em 1917, continua a dar cartas que é um disparate e eu quero continuar a arranjar subsídios para fazer cinema! Aliás isto nem se passa em Fátima, é em Meca! Só depois de eu ter o filme pronto é que a senhora que me faz as limpezas lá em casa me disse. Então senhor doutor, não me arranja uns convites para ir ver a senhora de fátima ao cinema? Sabe que eu sou muito devota! E foi assim que eu fiquei a saber que o malandro do Rodrigues Miguéis me tinha enganado!"
O facto de estrear a 13 de Maio é marketing? -"Não! Foi por acaso! Era para ser a 6, só que nesse dia eu andava ocupado a arrumar umas gavetas lá em casa, sabe como é, de vez em quando tem que ser. Então depois pensámos em 20 mas para esse dia o meu assistente de imagem já tem umas cenas combinadas com a manicure. Então ficou para 13 e só mais tarde é que nos lembrámos, olha que coincidência!"
Qual é a sua posição relativamente ao fenómeno de Fátima? -"Olhe então é assim. Eu sou ateu como o tio, tá a ver? Mas não quero provocar ninguém muito menos os senhores padres. Aquilo é tudo uma história inventada, como os três porquinhos, o capuchinho vermelho, sei lá... Não tem nada a ver!"

Claro que os excertos acima foram transcritos de memória, pelo que pode dar-se o caso de estarem ligeiramente incorrectos. Por isso, para ouvirem a verdadeira entrevista de Mário Barroso à TSF, cliquem aqui se faz favor.

5/12/2004

ABAIXO A PROCISSÃO DE SANTA JOANA!

Por causa desta moçoila



está hoje esta vossa amiga sem fazer nenhum, já que na parvónia é FERIADO MUNICIPAL.

Pareceu-me pois de elementar bom gosto vir aqui agradecer publicamente à rapariga por ter falecido no dia 12 de Maio, mais concretamente em 1490.
Bem sei que os meus conterrâneos se encarregam de o fazer também, através de uma bonita procissão que (e mais uma vez agradeço à santa) eu não terei oportunidade de ver porque não estou lá.
Aliás, desconfio que se a própria fosse viva, tal manifestação de "chique bacoco e provinciano" lhe causaria tantas revoltas no estômago como me causa a mim própria, pois aquele desfile de "tios" e "tias" e criancinhas filhas de "tios" e "tias" e doutores e políticos da treta e escuteiros já com boa idade para se dedicarem a actividades mais úteis e militares barrigudos e o clero mais as respectivas beatas e sei lá que mais, tudo em busca de parecer bem numa comunidadezinha infelizmente atrofiada, é o suficiente para provocar uma corrida às farmácias em busca do tradicional Alka-Seltzer ou Eno.
Ora, deixem-se lá de merdas, até toda a gente sabe que a santa morreu de um aborto que correu mal! Nada contra a dita, no entanto. Ela limitou-se a sobreviver como pôde num mundo ainda mais "pequenino" que o de hoje.
...
Gosto de Aveiro. É uma bela cidade, tem boa gente (como prova a existência do meu humilde estabelecimento), e tenho pena.

5/07/2004

PROCURA-SE BLOGONA

Para evitar que dez pilas respirem de alívio por falta de um elemento na equipa adversária, procura-se urgentemente blogona suplente.
Requisitos: Ser uma pessoa do sexo feminino, ter um cérebro (de qualquer tamanho), saber pronunciar algumas palavras, assinar o nome e fazer contas de somar com duas percelas (para derrotar a equipa adversária chega).

A candidata deve consultar um ou mais dos seguintes links deste blog:
FundaSão, Gotinhas, Pecola, Cagalhoum, Alguidar ou Pintelho.

MOTIVO VERDADEIRO: Este elemento vai ficar sem computador no mínimo até à próxima quarta feira.

MOTIVO PARA ALIMENTAR O EGO DA EQUIPA ADVERSÁRIA: Este elemento está paralisado de medo (sou tão boazinha...).

Que me desculpem as restantes blogonas, mas de qualquer forma, também acho que não vai ser preciso mais que uma.

Vou de fim de semana que bem mereço.
Beijinhos! E depois contem-me quem ganhou... ou seja, por quantos.
CAMPANHA DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA DA TOXICODEPENDÊNCIA

Hoje vou aqui apelar a todos os pais e mães que ensinem as suas crianças a não fumar cenas com aspecto caseiro, não experimentar pastilhas coloridas com bonecos nem brincar aos médicos espetando em si mesmos seringas com medicamentos que os amiguinhos lhes arranjam. É também de evitar beber líquidos com algum grau alcoólico, especialmente se misturados com alguma substância das acima mencionadas. Expliquem-lhes que caso façam alguma dessas coisas ficam com a cabeça toda marada e vão começar a fazer coisas estranhas das quais ninguém entende muito bem o objectivo.

E dêem-lhes um exemplo real.
Levem as criancinhas a ver este filme:

Porque foi exactamente isso que aconteceu a este gajo:


Eu vi-o ontem, no Multimeios de Espinho.
E não sei se alguma vez voltarei a ser a mesma pessoa.

5/06/2004

GRAÇAS A DEUS COMEÇOU A CAMPANHA ELEITORAL

Esta é por excelência a altura em que os "Chefes" nos oferecem umas cenas para comprar o nosso voto. Ora como nem toda a gente lá vai com apalpanços e chochos (tara muito comum no pessoal dos mercados e feiras sabe-se lá porquê), o Cherne prometeu aumentos reais (reais penso que significa que dá para pelo menos um par de sapatos nem que seja da Bata) para os funcionários públicos em 2005, SE não houver até lá qualquer catástrofe internacional. Ora esta vossa amiga, que é padeira de profissão e nos tempos livres é funcionária pública, regozija-se com a medida e espera que a tal catástrofe não aconteça e tudo se mantenha calmo.
Há no entanto para aí uns ranhosos e desmancha-prazeres a querer estragar o arranjinho. Nem sei o que é pior, sinceramente. Se é haver gajos desses, se esta coisa não aceitar acentos nem cedilhas. Fica estranho à brava.

5/05/2004

ESTAMOS EM PROSPECÇÃO DE MERCADO

Pois é. Este estabelecimento vai mudar de instalações. Para já ainda estamos à procura. Queremos um sítio arejado, central (para estarmos sempre perto dos clientes) e com boa vizinhança. Ainda não encontrámos mas, para já, vamo-nos mantendo aqui, apesar das chatices constantes que a construção está a dar. Ele é os canos a meter água, ele é problemas de insonorização e mais recentemente foi a decoração à vida. Por isso, enquanto nos mantivermos nas velhas instalações, pedimos a compreensão de todos os fregueses e esperamos que estes continuem a dar a sua opinião sobre as fornadas que vamos cozendo apesar de privados das nossas magníficas obras de arte (modéstia é mesmo connosco)... porque padaria sem clientes não é padaria.

Continuando.
E ainda acerca do post de ontem, informo que já perguntei à D. Rosa (que é a minha mãe), sobre o "gore", ao que ela me respondeu que se está a cagar para isso. Só passa o dia todo a ver filmes na Lusomundo Action porque detesta violência gratuita e esta afinal ainda custa 5 euros por mês. Além disso não iria fazer a desfeita ao maestro Vitorino de Almeida, pessoa séria por quem nutre grande admiração.
Eu pela minha parte tinha construído uma belíssima imagem para ilustrar o filme "Dawn of the Dead" que não consegui inserir. Se continuarem a não a visualizar, por favor, cliquem aqui.


5/04/2004

DAWN OF THE DEAD

A quem aprecie um sentido de humor retorcido e completamente perverso, recomendo este filminho que fui ver ontem.
Se apreciar também cenas tipo a invasão de campo pela claque leonina, as campanhas de "fumar mata" ou as aparições públicas da Lili Caneças, melhor ainda... porque o raio do filme tem umas passagens deveras impressionantes... acho que agora lhes chamam "gore". Acho que é isso. Mas vou perguntar à minha mãe e depois confirmo.

5/03/2004

ENLARGEMENT DAY

Pois então neste fim de semana a nossa querida união europeia tomou uma "enlargement pill". Foi tudo muito lindinho, muito bem, ninguém tropeçou, os músicos tocaram afinadinhos. Agora devem estar a desmontar a tenda do circo.
E não é que eu não ache o projecto de uma europa unida interessante, porque na verdade até acho.
O que também acho é que nos falta anos-luz para que esse projecto seja autêntico, ou seja, quem sente alguma coisa por aquela bandeira azul com as estrelinhas que ponha o dedo no ar. Ninguém, claro.
Mas, acima de tudo, a europa unida só existe quando acabar o mix explosivo Arrogância+Ignorância. Porque de toda a festarola que se montou no dia 1 eu só consigo reter uma imagem. Foi quando um comentador irlandês disse, na BBC, qualquer coisa como isto:
-Acho que não vai ser perigoso este alargamento. Quando Portugal e a Espanha entraram também toda a gente pensou que esses azeiteiros (tradução livre da expressão usada "olive oil people") iriam emigrar em massa para o norte, e afinal tal não aconteceu.
Brilhante não? Eu diria mesmo um caso de mente sobre-dotada. Porque isto de um senhor a quem é dado o direito de mandar postas de pescada na BBC afirmar sem vergonha que pensa que portugueses e espanhóis são um bando de nómadas a viver no meio de oliveiras e lagares de azeite, loucos por uma oportunidade de se juntarem a merdosos como ele, tem que se lhe diga.
Eu, por mim, meus amigos, vou reservar-me o direito de usar o 6º e o 7º palavrões da história do farinha para resumir o que penso: Puta que o pariu!