1/07/2004

Moral e Bons Costumes

Nos velhos e saudosos tempos em que imperava a moral e os bons costumes, em que as senhoras, em vez de perderem tempo a fazer destas poucas vergonhas, estavam em casa a pregar botões e a arrancá-los para os pregar de novo (até havia cursos para isto!), em que estas coisas só se faziam de luz acesa e sem escafandro quando os chefes de família iam às putas, por respeito à esposa que tinha mais que fazer a pregar e despregar botões, o Dr. José de Almeida Correia deu à  estampa, em 1938, o Compêndio de Educação Moral e Cívica para os I, II e III anos dos liceus, livro esse de que um exemplar me veio afortunadamente parar à  mão, ou seja, dei 5 euros por ele na feira do livro.
Se não fossem agora uma cambada de velhinhos depravados e badalhocos, muito teriam os felizes alunos que tiveram a oportunidade de estudar por esta maravilhosa obra a ensinar-nos sobre a moral. Mas já que assim é aqui estou eu para os substituir, qual bastião da velha guarda, e transmitir-vos alguns dos singelos mas profundíssimos preceitos expostos no compêndio de que vos falo.
Sobre a Mocidade Portuguesa, na página 167 explica-se que uma das suas funções é combater e rejeitar o comunismo. Estão no bom caminho então estes rapazes, desde que não comecem para aí a defender a legalização do aborto. Senão qualquer dia ainda os apanhamos a fumar! Mau!
Nas páginas 159 e seguintes somos esclarecidos de que as distracções são necessárias para restabelecer o equilíbrio. Porém "há distracções que em vez de recrearem o espírito, o tornam agitado e inquieto", como é o caso do "jogo, teatro, cinema, bailes, chás-dançantes, ceias à americana (???) e festas de caridade". E perguntam então vocês, se até a merda das festas de caridade com as tias vesgas são demasiado excitantes, que raio pode a malta fazer para se distrair? Muita coisa. O autor nada refere sobre orgias loucas, consumo de Álcool e drogas, lutas na lama ou sessões de sado maso. Como vêem o leque continua enorme, só não vão ao teatro e outras secas do género! Fácil!
Embora este livrinho seja perene de bons e edificantes exemplos e lições, não me alongarei, referindo apenas para finalizar os perigos do desporto. Entre outros, o nosso amigo Zé Almeida refere a tendência do desportismo a transformar-se numa indústria que certas pessoas exploram em seu proveito. E neste tempo ainda nem se via disto! Esperto!
Enfim! Resumindo e concluindo, este Zé era um radical e devia ser uma queca e tanto! Até fico com afrontamentos só de pensar, meu deus!

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