Na semana passada tive uma reunião numa sala onde em tempos dei formação profissional a um grupo da adultos no âmbito de um programa de reinserção ligado ao Rendimento Mínimo Garantido.
A sala nunca mais foi usada, o que se notava no cheiro a mofo, e eu nunca mais lá tinha estado.
Nas paredes vazias havia apenas uma coisa: Uma folha de cartolina com um poema colectivo que eu tinha construído com esses formandos, usando aquele sistema que todo o bicho careto que é profe conhece, listar por ordem alfabética várias palavras tiradas de um outro poema, cada um escrever um verso e depois ordená-los em conjunto de acordo com a lógica e o sentido estético da coisa.
Eu sou uma pessoa demasiado emocional, eu acho, mas tento-me conter em algumas situações. Quando entrei naquela sala e vi aquele poema ali sozinho apeteceu-me dar pulinhos de alegria, apontar e gritar: O nosso poema ainda ali está! O nosso poema! Senti mesmo qualquer coisa muito forte quando vi aquilo.
Só que rodeada de pessoas estranhas talvez não fosse muito conveniente.
Como é óbvio já não sei o poema de cor para o transcrever aqui. Mas durante a reunião, disfarçadamente, fui deitando o olho para lá.
Chama-se VEZES SEM CONTA e começa assim:
Vezes sem conta procurei
Como um pássaro louco voando sem saber
Era um curso de jardineiros.
No fim ofereceram-me um ramo de flores que está seco e ainda guardo.
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