2/18/2005

Ora então cá estou eu outra vez para responder às vossas dúvidas da semana passada. Quero antes de mais nada, no entanto, esclarecer todos os clientes que passarei a responder apenas às perguntas formuladas dentro da minha área de especialização, ou seja, todas. Isso significa que passarei a ignorar as provocações e as tentativas de engate, até porque aqui, quem se faz ao bife sou eu. Entendido?
Não poderei apesar de tudo deixar em branco o comentário da minha homónima, Srª D. Maria do Rosário, para a qual abrirei hoje uma excepção. Em primeiro lugar quero agradecer os conselhos e comunicar que já me comecei a documentar para poder escrever o meu próprio livro de crónicas. Pedi à minha patroa e ela emprestou-me um tal de A Vida Sexual de Catherine M. e um tal de A Casa dos Budas Ditosos. Eu bem que desconfiava que, por baixo daquele ar de sonsa, a gaja de certezinha não lia nada mais decente do que eu leio na Maria e na Ana. Com a agravante de não ter bonecos, só letras. Já estou um bocado farta da leitura, mas se quero chegar lá, tem que ser. Também estou a tentar descartar-me do Alberto, esse bronco sem maneiras que arrota nos restaurantes e tudo, mas está difícil. Com o marido da patroa é melhor desistir, além de ser um teso como ela, que não têm onde cair mortos e atrasam-se todos os meses com os ordenados, ele também não me tem passado cartão nenhum e eu não sou rapariga de me aguentar com negas de homens, era o que faltava. Quanto a clubes de futebol, o melhor que se podia arranjar por estas zonas era o Beira-Mar e olha a desgraça! Só consegue ganhar ao Benfica e ao Porto e empatar com o Sporting. Mas isso até eu fazia sozinha em campo.
O que quero dizer, na verdade, é que estou muito sentida contigo. Tiveste a distinta lata de convidar os patrões para um encontro logo à noite e eu, que no fundo sou a alma e o corpo desta padaria, nepa! Não se faz! Principalmente tendo em conta que era a primeira vez que alguém me convidava para qualquer sítio fino. A mim só me convidam para discotecas manhosas, voltinhas de carro à noite na praia e baptizados e casamentos na família onde geralmente acaba tudo à chapada. Não é justo!

Mas enfim, passemos às questões dos clientes:

Ângela: “A sua patroa sabe que anda a fazer convites descarados ao seu patrão???” Ângela, que raio de pergunta é essa chavala? Eu? Fazer-me ao patrão??? Nem pensar!!! Só me estava a oferecer para o ajudar nalguma coisa que ele precisasse, se quisesse passar lá por casa! Uma pessoa já não pode ser boa!
Saltapocinhas: ”Vou votar em quem?? Achas que se votar no santana lopes ele se casa comigo? Ou devo votar no paulo portas? Aquela história dos submarinos é tão sexy, ai ai...” Boa pergunta filha. Olha, para começar eu cá não vou votar. Mas é só por causa duma questão técnica. A presidente da minha mesa de voto é uma parvalhona lá da terra a quem foram contar que eu andava enrolada com o marido dela (o que é mentira), e ela agora diz que quando me apanhar me dá uma sova. Por isso não posso lá aparecer, havia de ser uma destas rebaldarias, com boletins de voto a voar por tudo quanto é lado, mulherzinhas aos gritos e pessoal a levar com as urnas na caixa dos palitos e depois aparecíamos nos telejornais todos a dizer que tinha havido um boicote popular às eleições (o que é uma cena já por demais vista) e eu não quero a minha freguesia mal falada.
Quanto à tua questão é assim: Acho que se a tua opção é arranjares um gajo com guito que te sustente sem teres que aturar putos dos outros e ainda poderes dar umas voltitas por fora, qualquer um deles serve. São os dois tão vaidosos e tão incapazes de desviar o olhar para qualquer coisa que não seja o seu próprio umbigo que nunca irão dar por nada. Vai em frente!
Bagaço Amarelo: ”Eu queria meter-me na droga mas não consigo, principalmente porque a grama de coca está caríssima e os polícias que a vendem tanto metem o dinheiro ao bolso e vão embora como no dia seguinte nos prendem e apreendem a droga que nos venderam.” Olha Bagaço, é assim, vou-te ser muito sincera. Eu, quando fui a primeira vez ao teu estabelecimento e vi o que escreves pensei que já andavas metido na droga há q’anos! Só que a parva da patroa, como sempre bruta como tudo, chamou-me estúpida com as letras todas e disse-me que aquilo é literatura, coisa que uma desmiolada como eu, que lê a Maria e a Cosmopolitan, nunca irá entender. Eu lá tive que encaixar porque na volta ainda era despedida, e até te digo que tenho um amigo polícia que vende droga da melhor, fazia-te um descontozinho e tratava de fazer com que nunca fosses dentro, mas francamente rapaz, continuo cá na minha que tu já não precisas. Quanto à sugestão de pedires ajuda àquele senhor nem penses! Fui lá uma vez para ele me fazer um trabalho a ver se o meu Alberto largava uma galdéria que trabalha aqui nos carros de choque e até já partiu os dentes todos a conduzir os ditos, e o que é certo é que além de me ter levado o ordenado todo desse mês ainda apanhei uma infecção genital tão grande, mas tão grande, que andei uma semana que nem podia vestir as collants. Afasta-te desses gajos!
Turista: ”Como se avança no tempo para não ter de aturar um dia de namorados? É que após oito anos ininterruptos a comemorar, este ano estou encalhado e acho que vai ser um dia muito muito longo” Querido Turista, espero sinceramente que já tenhas conseguido desencalhar. Depois de oito anos de prática não deve ser assim tão difícil. Eu só te digo que nesse malfadado dia de namorados ainda tentei uma data de vezes livrar-me do Alberto para te ir fazer um bocadinho de companhia, mas não deu. O chato estava assim a modos que para o romântico (deve ter sido da cerveja do LIDL) e até uma porcaria de um pássaro comprado no chinês (daqueles que piam quando a gente lhe põe a mão) me ofereceu, além de um postalinho cheio de erros de ortografia. Não havia quem lhe sossegasse o facho! Isto só a mim! Pode ser que para o ano se arranje qualquer coisa.

E pronto, por hoje é tudo. Não se esqueçam de colocar as vossas questões à Rosarinho!... antes que a patroa me despeça! Beijinhos a todos!

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