Passei a manhã rodeada de mulheres com mais anos no rosto e no corpo do que no bilhete de identidade que, com ar sofrido, trocavam impressões sobre os filhos, uns a raiar a deliquência, outros já com essa meta claramente ultrapassada. Mostravam fotografias da primeira comunhão, tempo em que para elas a maternidade ainda não era um peso mas sim um prazer. Outras contavam histórias que terminavam sempre em "Quem dera que ele encaminhasse! Quem dera!..."
De repente veio-me à cabeça uma estrofe daquela canção do Paulo de Carvalho: "O que faço aqui?"
Fui acordada das minhas divagações pela minha filha mais nova, a que meteu na cabeça que quer fazer um curso profissional e tinha acabado de sair da entrevista de admissão:
"Isto é tão podre! Mas tão podre!" - comentou.
E eu perguntei - "E ainda queres vir para cá?"
Acenou que sim, que não tem nada a ver com a pinta dos colegas, só quer fazer aquele curso.
Eu espero que ela aprenda mesmo só aquilo que quer... e não a roubar auto-rádios nem a enrolar canhões. E vou rezando, a quem não sei porque não sou crente. E vou continuando a estar do lado dela enquanto ela deixar...
Margarida Espantada
Há 1 semana
2 comentários:
Por muito que nos custe, não podemos nem devemos interferir demais nas escolhas dos filhotes. se fizerem asneira hão-de aprender com elas...É assim que se cresce. Nós só ficamos a ver e a tentar orientá-los para que se magoem o minimo possível! mas duvido que uma filha tua não saiba o que quer!
É duro ver os nossos filhos darem cabeçada... Algumas dessas cabeçadas até as conhecemos... Mas como impedir, será possível, valerá ? Com as cabeçadas se aprende a vida... Só temos que esperar que não se magoem demasiado... Como dizia Nietzsche: O que não nos destrói, torna-nos mais fortes! Não estou longe de pensar que quanto mais nos aproximamos da nossa própria destruição e sobrevivemos ilesos, mais aprendemos...
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