Hoje vou-vos falar duma espécie muito comum nas nossas costas, mas que também habita o interior norte e sul: O Destruidor de Lares.
O destruidor de lares apresenta-se quase sempre com uma camuflagem que lhe permite fundir-se no meio ambiente e passar despercebido, o que lhe dá a capacidade de apanhar as suas presas sem dificuldade. Só a um especialista é possível reconhecer o destruidor de lares sem que ele se manifeste de viva voz. Esses especialistas são seres que têm muitos anos de experiência a reconhecer as mais diversas espécies, experiência essa que recolhem de muitas horas passadas à janela ou à porta em troca de impressões com os restantes e à escuta em estabelecimentos públicos como cafés, mercearias e igrejas.
O destruidor de lares ataca geralmente em silêncio.
O destruidor de lares tem características diferentes consoante se trata macho ou fêmea, embora, habitualmente, ataque aos pares. Se for macho, é também conhecido como mulherengo ou putanheiro. Se for fêmea, apelida-se de maluca ou leviana. As vítimas do destruidor de lares também têm diferentes nomes consoante se trate de machos ou fêmeas. Assim, o macho desperta geralmente grandes risadas nos demais (ainda não se sabe porquê mas provavelmente devido a uma qualquer substância química que liberta) e é chamado de corno, embora nunca na sua presença. A fêmea fica geralmente rotulada de coitadinha e abandonada e acaba, não raras vezes, por ser motivo de letras para fados.
As crias são as vítimas preferenciais dos destruidores de lares e, embora estes não tenham a capacidade de as destruir directamente, destroem-nas com a ajuda da comunidade que se junta para, em sessões de grupo, as convencerem que os destruidores de lares têm a intenção verdadeira de as agredir. Este é um processo complexo e ainda difícil de explicar pela ciência. Basicamente funciona pelo processo de indução e hipnose.
Os destruidores de lares não têm só aspectos negativos. Também são grande fonte de animação na comunidade, pois por sua causa é habitual fazerem-se grandes reuniões familiares nas quais, à volta de umas cervejas e de uns pastelinhos de bacalhau, se pratica um desporto que consiste em ver quem consegue enumerar mais defeitos dos destruidores de lares que conhecem e que preferencialmente pertencem à família. Tal como no Trivial Pursuit, no entanto, há algumas perguntas e respostas que saem sempre, como por exemplo haver quem consiga jurar a pés juntos que o destruidor de lares em causa é alcoólico pois já foi visto a beber um ou até mais copos de vinho seguidos. No caso das fêmeas, é usual enumerar as vezes em que retirou a fralda a uma das crias e esta se encontrava suja, o que prova inequivocamente que nunca foi boa mãe, ou as vezes em que juntou a loiça do almoço com a do jantar e a lavou toda de seguida, o que prova nunca ter sido uma dona de casa competente.
Os destruidores de lares são também conhecidos por terem um apetite sexual voraz. Diz-se que são capazes até de usar métodos contraceptivos por forma a darem azo a tais apetites sem terem mais crias e, pior ainda, diz-se (embora não esteja provado cientificamente), que têm orgasmos.
A vida e hábitos dos destruidores de lares também são afectados pelo meio ambiente que os rodeia, dependendo essencialmente do número de exemplares das restantes espécies que com eles partilham o espaço. Em comunidades com um número médio de habitantes, digamos que à volta de 100.000, o destruidor de lares só é importunado muito esporadicamente. Por vezes, quando está num restaurante ou num café, apercebe-se que estão alguns especialistas a olhar, a apontar e a falar entre si num tom muito baixo. Os seus olhares são de reprovação, o que também é um indicador fidedigno de que o destruidor de lares foi reconhecido e poderá ser atacado. No entanto, tirando isso, raramente são incomodados.
Numa comunidade muito maior, digamos de 500.000 habitantes para cima, o destruidor de lares só raramente será incomodado desta forma pois provavelmente nem no prédio onde mora é, na maior parte das vezes, reconhecido. Isto acaba por ser frustrante para ele.
O destruidor de lares com a vida mais emocionante deve ser, sem sombra de dúvida, o que habita em comunidades com 1000 habitantes ou menos. Aí, mal sai à rua é imediatamente reconhecido, sendo alvo de ataques em cada canto e esquina. É geralmente nesses locais que o destruidor de lares depara muitas vezes com exemplares mais idosos que chegam até a benzer-se quando se cruzam.
Mas nem todos têm a sorte de habitar estes locais.
E é tudo. Para a próxima dissertaremos sobre outra espécie.
Margarida Espantada
Há 1 semana
4 comentários:
Esta "história" parece-me bem real...Espero que não tenha acontecido com alguém a quem estimes!
Se este texto entra no concurso escritor famoso.... tem já os meus 10 votos.
Desta vez estás de parabéns!! Finalmente li um texto bem construido, divertido, sério, sarcástico, inteligente, inspirado ( bom esta é fácil.. pensas-te em mim). Dou-te a minha palavra de homem, que quando acertares na minha espécie... eu confirmo!!
Beijo com todo o respeito, por ti e pelo japinho que te ama.
Esse gajo aí de cima que se arma em "escrevedor de latim", não sabe escrever em portugês!!! É PENSASTE e não "pensas-te" que a rapariga não é egocentrica para andar sempre a pensar só nela!
Ai Pedrito Pedrito! Estás lixado com a nossa professora, levas umas reguadas nas mãos se fazes outra! :)
E bem merecidas! :)))))
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