Hoje vi um ex-colega, reformado há anos, que protagonizou um episódio que faz parte do meu top-ten de memórias porreiras.
Era o L***, gajo barrigudo e solteirão, eterno ar de carneiro mal-morto, mais conhecido no círculo de conhecidos próximos como “O Ratazana Velha”. Só claudicou perante o aparecimento dos computadores, esses estranhos intrusos que ousavam querer saber mais que os humanos. A parir daí nunca mais ninguém obteve do L**** aquelas informações secretas que só tem quem é o mais velho e de que ele tanto se orgulhava. “Metam-me o fio dessa merda no cu e pode ser que a resposta apareça aí nessa televisão!” – era o que ele respondia a quem tentava socorrer-se do banco de dados da sua memória – “Então esses tais de computadores não sabem mais do que eu?”
Um dia apareceu um arquitecto de fora à procura de informações sobre antigos prédios de Aveiro de que não havia qualquer registo. Claro que lhe indicaram o L***, guardião de todas as histórias, todas as cusquices e todos os mitos da terra. Lá conversaram, e o L***, que embirrou desde o início com aquilo que para ele era um emproado cheio de mania, tratou-o por colega durante toda a conversa. No fim, o outro questionou-o:
-Então, o senhor é colega?
-Sou, sou! Também estive quase para ser arquitecto!
-Ah foi? Que interessante! Eu por acaso vi logo que estava a falar com alguém com conhecimentos, com…
O L*** interrompeu-o:
-Só que desisti na quarta-classe.
Margarida Espantada
Há 1 semana
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