Como é habitual nas relações de trabalho, o facto de se estar lado a lado com alguém sete horas diárias acaba por desenvolver, umas vezes devagarinho, outras mais rapidamente, uma necessidade de partilhar coisas que temos a pesar cá dentro mas que jamais partilharíamos noutras situações.
Por isso um dia ela contou-me. Nos dias em que aparecia naquele estado tinha estado a "pagar a renda". Não em dinheiro (que não tinha) mas em géneros. E não da forma mais óbvia que toda a gente é levada imediatamente a supor que uma mulher, ainda por cima jovem, use para pagar uma renda em géneros. Simplesmente, o senhoria era casado e tinha uma amante. Como não a podia levar para casa nem queria gastar dinheiro em hotéis, usava o apartamento que tinha alugado. Nesses dias telefonava à inquilina e dizia qualquer coisa como: "Hoje vou estar lá com a *****, entre só quando nós sairmos". E lá ficava ela, muitas vezes à chuva e ao frio e até altas horas da madrugada, sentada num dos bancos de jardim em frente do prédio, nesta cidade de vento agreste, à espera que eles saíssem para poder ir para casa. Depois, ainda tinha que refazer a cama, despejar cinzeiros e arrumar copos e garrafas de vinho. Antes de finalmente poder dormir algumas horas.
Foi uma das histórias mais bizarras que já me contaram na vida.
Curiosamente hoje, que me lembrei dela, constatei que já não me consigo lembrar do nome da protagonista. Acho que nunca mais a vi.
2 comentários:
Assombroso! Deixas-me publicar isto no blog porcalhoto, não deixas?
Ófe córce!
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