8/31/2007

E O CÉU, MEREÇO-O EU!

Hoje foi um dia pródigo em cromos e personagens. Mas como exemplo, basta este:

Estava a vossa padeira no seu outro emprego, na boa, sem se meter com ninguém, a passar umas guias para um bacano sentado na sua frente, quando ele de repente, tomado por um qualquer assomo de loucura, desatou a discursar nos seguintes termos, com um ar tão sério como se estivesse a perguntar quanto custa o impresso 922:
- Deus é grande e grande é o seu reino! Não é Deus que vem até nós! Somos nós que temos que ir até ele! Assim mereceremos o céu, que tudo tem de bom!
E eu armada em surda-muda e ceguinha, que é como quem diz a fazer de conta que não dava por nada. E ele a dar-lhe:
- Deus é pai! Deus é a verdade e a vida!
Levantei a cabeça do teclado, pus o meu sorriso número catorze que é o que significa “adeus ó vai-te embora” e respondi:
- E pronto! Pode efectuar o pagamento na tesouraria! É só! Obrigada!
Aí, o meu simpático interlocutor calou-se por uns momentos, tão sério como se deus himself tivesse acabado de lhe fazer uma revelação. Depois atirou:
- A senhora já leu a Bíblia?
E eu, ainda com o meu sorriso número catorze mas já a atirar para o quinze, que é o “vai mas é à merda”:
- Não creio!...
- Pois leia!
A seguir levantou-se e dirigiu-se à tesouraria. Já em pleno open-space virou-se para trás e insistiu, desta vez em dolby surround, apontando na minha direcção:
- Leia a Bíblia! A senhora precisa de ler a bíblia!

Porra! E a funcionária pública sou eu!

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