Nunca consegui gostar de fado, caramba, é uma coisa que me dá arrepios. Tirando Carlos do Carmo, a guitarra de Carlos Paredes, José Afonso (mas há quem diga que isso de Coimbra não é fado, seja), e uma ou outra gravação feita por graça por quem não é fadista, nunca consegui aguentar pacificamente aquilo. As voltinhas na voz, o povo que lava no rio e talha caixões, chiça, nem psichés nem mesinhas de cabeceira, tinha que ser caixões, a mocidade que não volta, o soldadinho que não volta, o amor que volta mas tarde, a Severa que morre cedo e com esgares de faduncho, a traição,o sofrimento sem fim, pá... não dá. Sendo portuguesa sem alternativa, cheguei a sofrer de complexos de culpa (moderados) por não gostar de fado. Jurei que já não os tinha, mas fui ver o filme de Carlos Saura numa secreta intenção de fazer as pazes com o bicho. Pior. Não gostava de fados e não gostei do filme (apesar do meu preferido Carlos do Carmo). Pior ainda. O filme está cheio de coreografias patetas que me obrigaram a controlar vários ataques de riso numa sala com meia dúzia de pessoas. E pior pior pior ainda. Ao meu lado sentou-se Bernardo Sassetti, a comer pipocas e a beber coca-cola. Perdi definitivamente a minha pouca crença na música... e na estratificação social.
Margarida Espantada
Há 1 semana
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