Tinha uma figura atarracada de homem rural. Curtido pelo sol e com unhas muito negras de terra residente. As rugas do rosto eram sulcos preenchidos com uma substância escura.
Quando se aproximou, vi que tinha uma mosca pousada no polegar. Sentou-se, mexeu nuns papéis, gesticulou um pouco. A mosca continuou lá, impávida, com a postura de quem se sabe em terreno seguro. Despreocupada, a esfregar as mãozinhas de mosca a espaços compassados. Quando ele segurou a esferográfica sem vigor e desenhou contrariado algumas palavras imperceptíveis num formulário, ela manteve-se lá. Os dedos dele não tinham a elasticidade que é preciso ter para um objecto fino como a esferográfica e mantiveram-se arqueados, duros. Talvez por isso, a mosca não se sentiu um estorvo e continuou lá, como que a conferir a escrita do dono.
Fiquei fascinada com aquele quadro e não consegui parar de olhar para aquele polegar grosseiro com uma mosca domesticada em cima, até ambos se afastarem. Como irmãos inseparáveis.
Sic itur ad astra
Há 20 horas
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