3/01/2008

DE COMO ÀS VEZES PRECISAMOS URGENTEMENTE DE VER ALGUMA COISA NORMAL PARA CONTINUARMOS A ACREDITAR NA HUMANIDADE

Era uma mãe e a respectiva cria (um corpulento e balofo rapaz a aparentar os trinta anos). Ele sentou-se, ela ficou de pé a dar as instruções (a ele) e as justificações (a mim), as quais ia intercalando. Acariciava a cabeça do filho como se faz a um bulldog de estimação.

- Sabe, os novos têm que aprender a tratar destas coisas sozinhos!

- Vá lá! Tens que preencher isso! É complicado mas a senhora explica!

- Sabe, ele coitadinho, não está habituado. O pai é que tratava de tudo para ele. Mas agora já é um homenzinho!

- Não é M********?

(O M******** fez um esgar de contentamento, como que a dizer "A minha mãe é muito boazinha para mim!", e continuou de cabeça enfiada no impresso, língua de fora (com o esforço), e gestos grosseiros, com a letra a subir e a descer em relação às linhas, ora mais leve, ora quase a rasgar)

- M********! Tens que pôr o "ésse" a seguir ao número! Senão as cartas não vão lá ter!

O M******** falou pela primeira vez:

- É com "ésse" de cão?

- Sim! É "ésse" de cão! - e a mãe sorriu, com ar desvelado. Depois dirigiu-se a mim novamente:

-Se o visse a escrever no computador! Aquilo é sempre seguido seguido seguido! Agora assim com caneta não está habituado, coitadinho!

Eu, durante o tempo todo, contive-me para não dizer o que me estava quase a sair pela boca fora sem eu querer:

- Oh minha senhora! Se eu tivesse um filho assim cobria a minha cara de m*rda!

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