E eu fiquei em lágrimas.
Não que conhecesse o senhor de algum lado ou sequer tivesse alguma vez falado com ele. Foi porque, apesar disso, o rei dos botões fez parte da minha infância. Não como o Pai Natal, mas vá lá, como a família Prudêncio dos pesticidas e como a Maria da Várzea do meu livro da terceira. Não me fizeram feliz nem infeliz mas lembro-me deles.
O Rei dos Botões tinha uma loja no Largo das Cinco Bicas. Vendia botões em centenas de gavetas, todas elas com um exemplar de cada botão que tinha dentro, colado por fora. Cada gaveta tinha só um tipo de botão, mas de tamanhos e cores diferentes, e ele alinhava-os por ordem decrescente de tamanho em várias filas. O Rei dos Botões tinha também profundos conhecimentos bíblicos e em vez de botões, na montra, tinha cartazes feitos à mão por ele próprio com citações dos evangelhos e avisos para que os compradores de botões e todos os outros que passavam, não se deixassem enganar pelas interpretações da bíblia feitas pela religião, x, y e z. Ele era da b. Os botões não apareciam na montra, só lá dentro, nas gavetas. Mas ele não precisava de se preocupar com isso porque era o rei.
A minha mãe costumava comprar botões no Rei dos Botões, e ficava sempre muito tempo a discutir com ele as interpretações bíblicas. Eu ficava a ver os botões nas gavetas e a fazer jogos mentais: - "Desta fila gosto maaaais...deste!". Por isso, nunca cheguei a ouvir qualquer dessas discussões, nem nunca cheguei a saber reproduzir uma única frase das muitas que constituem os capítulos e os versículos. Ainda bem que havia tantos botões de tantas cores para eu estar entretida.
O Rei dos Botões já morreu há muito tempo e da loja só resta a memória. Eu fiquei muito emocionada com a fotografia que me mandaram porque é uma daquelas coisas que, quer queiramos quer não, nos atiram à cara com a evidência dos efeitos do tempo.
10 comentários:
Acontece-me o mesmo - um nó na garganta - com o encerramento da pastelaria Lisbonense, no largo do Pelourinho da Covilhã.
Ai, o Senhor José Cunha e as gargantas de freira...
eu lembro-me do rei dos botões!
comprei lá alguns, mas lembro-me mais dos poapéis religiosos que ele por lá tinha!
São, gargantas de freira? Só conhecia barrigas de freira. Que mais doces de ovos se farão com nomes de coisas das freiras?
Claro Saltapocinhas, contava contigo para te lembrares! :)
Tantas coisas! Já viste «O Convento das Depravadas 5»?
Esse não... mas já vi o Música no Coração.
Vai dar ao mesmo :O)
http://afundasao.blogspot.com/2008/03/crica-para-visitares-pgina-john-amp.html
Oh também queria um rei dos botões na minha terra!
Estava eu a navegar nos blog's, quando deparei com o Sr. Rei dos Botões e a sua famosa montra. Lembro me bem dele, não só por viver no largo, mas também por que conheço os netos.
Estrela, deve haver algum no género!
Geoca, como o ser rei dos botões une as pessoas! :))) Já cá veio a vizinhança toda, é o máximo!
❤ que bela homenagem ao meu avô!!! É verdade, aquela loja era um mundo de botões... adorava vê-lo na máquina de forrar botões! Gostava bem saber dela.
Sempre que chegávamos à loja o avô dizia:"agora eu desco, fico prquenino e tu cresces e ficas grande", agachando-se para dar um beijinho e abraço.... muito bom!
Grata por tão bela memória que por instantes traz o avô de volta.
Liliana Magalhães
#oreidosbotões #5bicas #sr.Magalhães
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