A casa onde eu morava quando era criança era no campo. A meia dúzia de quilómetros daqui, é certo. Mas ao tempo, era campo. Por isso, talvez atraídas pelas inúmeras bostas dos inúmeros animais domésticos e trabalhadores que por ali partilhavam o dia-a-dia com os humanos, as moscas eram uma praga. Não era possível estar em lado nenhum sem que um bando de moscas furiosas nos atacassem com picadas ácidas constantes. Dentro de casa, os cuidados redobravam-se, que elas eram atrevidas e muito caseiras.
E como naquele tempo os meios de combate eram poucos e pouco sofisticados, a maior parte das pessoas protegia-se com umas tiras compridas empastadas duma cola muito pegajosa que se penduravam no tecto.
Um dos meus passatempos favoritos, quando não tinha que decorar rios e montanhas nem me apetecia cortar rabos às lagartixas, era ficar deitada em cima da cama, muito satisfeita, de braços cruzados por baixo da cabeça, a observar a multidão de moscas que eram apanhadas na substância pastosa em pleno voo, e depois lá ficavam coladas a espernear, até que a tira estivesse tão cheia que dava a sensação de ser uma serpente negra em movimento.
1 comentário:
eu ainda era mais sensível à beleza: fazia hospitais com caixas de fósforos e metia-as lá!
s+o que para elas não fugirem do hospital tinha de lhes arrancar as asas e algumas patinhas...
que horror!
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