6/04/2008

OS JOVENS E A POLÍTICA NO TEMPO EM QUE NÃO HAVIA TELEMÓVEIS NEM WII NEM BERSKA

Mal tinha acabado de fazer dezoito anos, já assentava praça como escrutinadora nas mesas de voto da minha freguesia. Muito compenetrada e muito convicta dos princípios do marxismo, mesmo sem os conhecer por aí além.
Quis o acaso que eu morasse precisamente na freguesia onde era maior a concentração de piedosas velhinhas por metro quadrado em todo o concelho. Assim, ainda nós não tínhamos acabado de pôr os papéis em ordem, ensonados e a suplicar um café, já apareciam à porta as primeiras beatas vestidas de preto, qual bando de corvos agoirentos, à espera que abríssemos para votar, saídas directamente da missa das sete na sé, mesmo ali ao lado. Com elas, vinham também os primeiros votos que eu sabia que não ia gostar de abrir no final do dia. Resmungava qualquer coisa entre dentes, sem ninguém se aperceber.

O tempo fez-me desacreditar dos ensinamentos do pai Marx. A mim e a muitos outros que naquela idade também quiseram mudar o mundo e agora são apontados a dedo pelos que já nasceram de fato vincado e risco ao lado. Também me fez perder a pachorra para estar todo o dia a dar baixa nos cadernos eleitorais e a contar votos, trabalho que naquele tempo não era recompensado. Não me fez perder a qualidade de ovelha ranhosa. Há coisas que não mudam.

2 comentários:

saltapocinhas disse...

tadinhas das senhoras! :))))

nós antigamente eramos maisvpolitizados talvez porque, como tu dizes, não nascemos já assim com tudo feito e pronto-a-comer.

se o que nós resta agora é refilar... pois refilemos!!

Didas disse...

Eu não refilo, sou só uma língua viperina! :)))