4/22/2004

MAIS UMA COM CRIANÇAS

No dia em que me ensinaram na catequese que a Nossa Senhora de Fátima tinha aparecido a três pastorinhos analfabetos montada numa azinheira no fim do mundo, cheguei a casa e perguntei à minha mãe:
- Porque é que ela decidiu aparecer justamente àqueles três e não a outros? Qual foi o critério de selecção?
A minha mãe aproveitou logo a deixa e pimba, convenceu-me que a santa mãe de jesus tinha escolhido aqueles meninos porque eles se portavam muito bem e nunca arreliavam os pais.
- Ai ele é isso? -pensei eu- Então ela vai ver. Vou-me passar a portar tão bem que vai ter que me aparecer também quer queira quer não!
De facto, durante uns dois ou três dias, fiz a cama de manhã antes de sair, arrumei os brinquedos sem ser atrás dos móveis, não colei macacos na parede, não fiz chamadas anónimas a insultar os vizinhos, não pus girinos dentro do tanque público, não cortei o rabo a nenhuma lagartixa, não espreitei pela fechadura do quarto dos meus pais nem roubei tabaco para ir fumar com as colegas no meio do milheiral.
Só que ao fim desse tempo, como a gaja nunca mais aparecia e eu já andava a ressacar, desisti do projecto. Foi pena. Com mais um dia de abstinência teria visto, não apenas a Nossa Senhora mas todo o corpo celestial rodeado de anjos tocadores de trombeta e fogo de artifício em fundo. A alucinar claro.
Por acaso acho que a minha mãe foi indecente. Isto não se faz a uma criança.


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