COIRATOS, HOMOSSEXUALIDADE E OUTROS
A propósito de um post que li neste estabelecimento no dia 23 de Abril e no qual fiquei a meditar seriamente, resolvi passar à acção, tirar as mãos da farinha, limpá-las ao avental, tirar o lápis da orelha, pegar no livrinho dos calotes e desenvolver a minha teoria pessoal acerca da homossexualidade, aqui encostada ao balcão, enquanto não entra nenhum cliente. Teoria científica, como se vai ver. O John Thorp que se cuide!
Problema de partida:
Em que medida a homossexualidade ou qualquer outro comportamento não observável na maioria-padrão pode ser considerado uma doença/aberração/opção de vida?
Hipótese:
Em nenhuma.
Método utilizado:
Analogia.
Descrição:
Começámos por listar todos os comportamentos/características verificados apenas em minorias e mencionar à frente de cada um a respectiva designação, conforme segue:
Pessoal que gosta de sandes de coiratos - Sem designação própria
Pessoal que gosta de blazers axadrezados em tons bebé - Sem designação própria
Pessoal que gosta de ficar acordado toda a noite a ver filmes repetidos na TV Cabo - Sem designação própria
Pessoal que gosta de levar e/ou dar umas palmadas - Sado-Masoquistas
Pessoal que gosta de ver outro pessoal a praticar sexo - Voyeurs
Pessoal que gosta de se vestir com indumentária própria do sexo oposto - Travestis
Pessoal que gosta de ir para o parque abrir a gabardine quando passa por outro pessoal - Exibicionistas
Pessoal que gosta de praticar sexo com pessoal do mesmo sexo - Homossexuais
Observação dos resultados:
Verifica-se haver importantes lacunas na criação de termos específicos e adequados para designar uma série de comportamentos não adoptados pela maioria, parecendo-nos revestir-se de especial gravidade o caso do pessoal que come sandes de coiratos.
Verifica-se também que em todos os casos em que já existe designação, o comportamento a que esta se refere é sempre de carácter sexual, o que demonstra cientificamente que o sexo é um assunto que agrada sobremaneira à maioria que, no entanto, tem dificuldade em lidar com o assunto, catalogando de imediato tudo o que lhe baralha os neurónios.
Experimentámos então imaginar o que aconteceria se, por um qualquer acaso, fosse mesmo atribuída uma designação específica ao pessoal que gosta de sandes de coiratos. Fomos mesmo mais longe e tentámos imaginar a que conclusões chegariam os cientistas que resolvessem dedicar toda a sua vida ao desiderato de descobrir se essa característica seria ou não inata e se poderia ou não ser considerada uma doença ou apenas uma questão de gosto pessoal.
Imaginámos o que pensaria a maioria quando descobrisse a quantidade de subsídios que se andavam a distribuir aos ditos cientistas para estudar semelhante questão, bem como o que aconteceria quando os governos decidissem legislar sobre o assunto, ficando estabelecido que os indivíduos que padecessem desse mal não poderia comer as suas sandes em pão de trigo mas apenas de mistura e chegámos à conclusão de que haveria um motim à escala mundial (já para não falar da falência do nosso estabelecimento).
Conclusão final:
Andamos mesmo todos alucinados e fazemos tudo ao contrário do que é natural. Ou seja, em primeiro lugar inventamos uma designação para aquilo que nos incomoda e depois é que decidimos que, já que aquilo tem um nome, tem que ser estudado e legislado seriamente.
E pronto. A comunidade científica está em alvoroço com esta grande descoberta, só que eu tenho ali uma fornada de pão a sair e tenho que ir tomar conta.
Quando resolverem entregar-me o prémio nobel podem deixar por baixo da porta. Sou brilhante, porra!
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