"Venho por este meio remeter a V. Exª o cheque n.º... do B... a fim de liquidar as facturas em atraso de que anexo fotocópia.
Mais informo que pretendo rescindir o contrato a partir do próximo dia 1 de Janeiro de 2005 (inclusive).
A minha nova morada é a que acima indico."
Ontem à noite, quando cheguei a casa, para meu espanto, tinham-me cortado a luz. Na caixa de correio tinha dois documentos: Um era o recibo do cheque acima referido (portanto nesse ponto tudo bem) e outro era intitulado "Rescisão de Contrato de Fornecimento de Energia Eléctrica", no qual a "Data de Desligação" referida era 2005.01.03.
Agora eu pergunto o seguinte:
Se hoje, pelas minhas contas, é dia 21 de Dezembro, mas pelas dos senhores da EDP já chegámos a 3 de Janeiro, em que raio de limbo estive eu durante o Natal, a ceia, a chegada do Pai Natal, a passagem de ano e os foguetes? Como é que não dei por nada?
No sentido de esclarecer esta grande dúvida, o meu marido
tratou de telefonar hoje para a EDP (foi melhor eu não o fazer porque, sendo do norte, quando tenho uma descarga de língua tenho MESMO uma descarga de língua e depois era uma chatice). Como não é difícil acreditar, teve que fazer sucessivos telefonemas para diversos números, naquele tão conhecido jogo do empurra que é uma pena estes serviços públicos ainda não terem patenteado, ouvindo afirmações hilariantes do género: "Pois, agora tem que fazer novo contrato até ao fim do ano e já não dá para ligar hoje.", "Tinha que vir cá só na véspera da rescisão porque é assim que se costuma fazer e os funcionários aqui não estão habituados a procedimentos diferentes" ou "É que a carta da sua mulher era muito comprida e nós não chegámos a ler a data."
Finalmente, acordaram em se deslocar novamente durante o dia de hoje para emendar o rico serviço que fizeram.
Apenas algumas questões, para finalizar:
-Se a minha carta era muito comprida para a inteligência dos senhores da EDP, como é que eles fazem para ler, por exemplo, a programação da televisão, o resumo da novela ou mesmo a lista de compras lá de casa? Claro que já não se põe, sequer, a hipótese de tais pessoas conseguirem ler algo como, sei lá, um livro! Mesmo pequeno! Nem o farinha, aí estou à vontade, não passam do título!
-Se os funcionários da EDP só conseguem agir de acordo com os procedimentos para os quais estão programados e qualquer alteração provoca imediatamente um crash no sistema, não valem mais do que a minha máquina de lavar ou a minha torradeira. Porque é que então lhes pagam (pagamos) um ordenado?
-Quem é que me vai pagar a mim os prejuízos que tive por ter que deitar fora tudo o que estava no frigorífico e por não ter podido sequer lavar cabelo hoje de manhã porque não podia usar o secador, tendo que o fazer no cabeleireiro?
-E finalmente, com tão pouca capacidade intelectual, estarão estes senhores habilitados a lidar com coisas tão perigosas como fios eléctricos? Não será cada missão de desligação (como eles lhe chamam), uma missão arriscadíssima? Não correremos nós o risco de um dia chegarmos a casa e encontrarmos um funcionário destes fulminado e agarrado ao nosso contador?
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