10/06/2005

NATIONAL GEOGRAPHIC - EPISODE FIVE - O MANGAS ALPACUS

O Funciunarius Publicus é uma espécie que abrange uma grande diversidade de subespécies. Neste artigo debruçar-nos-emos apenas sobre uma dessas subespécies: o Mangas Alpacus, assim conhecida devido a um apêndice com que nasciam os seus antepassados mas que acabou por desaparecer ao longo da evolução e do processo de adaptação da subespécie ao meio.
O Mangas Alpacus distingue-se pelas seguintes características:
-É geralmente fêmea, estima-se que o seja em 80% dos casos (aprendemos esta técnica científica numa manifestação do PNR)
-Passa grande parte do tempo em posição de sentado num objecto com rodas, mas que no entanto não sai do sítio nem tem motor ou mesmo pedais. Calcula-se que o motivo seja então apenas o estímulo psicológico, pois uma cadeira com rodas facilmente cria a ilusão de que se vai a qualquer lado.
-Tem à frente uma mesa com variadas gavetas, nas quais guarda uma grande quantidade de tupperwares com fruta e bolachas de água e sal. Estima-se que cerca de 80% dos outros 80% dos mangas alpacus que são fêmeas (lá está outra vez a técnica) passe 80% do tempo em processo de dieta.
-Tem também nas gavetas pensos higiénicos, comprimidos para a dor de cabeça e revistas. É através destas últimas e de permanentes trocas de impressões com os outros membros da espécie que se mantêm actualizados, especialmente no que diz respeito aos pormenores da vida quotidiana dos outros seres.
-O Mangas Alpacus é exímio nos jogos de freecell e solitário.
-O Mangas Alpacus é também exímio na arte de convidar o/a chefe para almoçar e, durante o processo de nutrição, fazer a folha aos restantes mangas alpacus. Este processo é conhecido por “lambe-botas”.
-O Mangas Alpacus, apesar de ser uma subespécie geralmente calma e pouco agressiva, revela um comportamento extremamente violento quando confrontado com a simplicidade. Passamos a explicar: pôr um carimbo num papel é um procedimento que deve demorar uma média de 3 meses. Caso lhe seja sugerido que demore menos, o mangas alpacus fica nervoso e excitado pois pensa que o seu estatuto de incansável obreiro estará em perigo. Assim, para que o papel x leve o carimbo y, terá que passar por um complexo processamento. Em primeiro lugar dá entrada oficial em 3 livros diferentes (um dos quais com mais de 2 metros de largura quando aberto) e no computador, embora de forma deficiente para que mais tarde não apareça à primeira. Seguidamente é fotocopiado 27 vezes e guardado em 27 pastas diferentes cosidas à mão. Depois é lido atentamente por toda a comunidade de obreiros, após o que uns põem um carimbo (que ainda não será O CARIMBO) e outros (os mais importantes) escrevem “Tomei conhecimento, à consideração superior”, a data e assinam. A seguir todas as 27 cópias do papel devidamente encapadas à mão vão parar a uma gaveta onde se perdem durante 2 meses até que o dono do papel faça um chiqueiro e ameace partir tudo à biqueirada ou, em alternativa, entregue aos mangas alpacus um suplemento vitamínico em forma de notas de euro que lhes irá avivar as memórias. Finalmente, o papel passa à fase do despacho, que consta da assinatura do mangas alpacus superior. Estas assinaturas são produzidas à média de uma por semana para evitar o stress laboral. Todas as sextas-feiras, antes de ir para casa de fim-de-semana, o mangas alpacus superior escolhe aleatoriamente um dos papéis e, num momento de arrebatada inspiração, faz-lhe em cima uma assinatura sem o ler. Este papel passará ainda por outros estágios até que a resposta final chegue, efectivamente, a casa do interessado. Escusar-nos-emos no entanto a explicitá-los aqui por absoluta falta de gigabites.
Por hoje é tudo. Em breve regressaremos com mais um episódio científico.

6 comentários:

SDF disse...

Páaaa! 'tou aqui que nem posso!!! Até já me doi a barriga de tanto rir.

Esta padeira dá cabo de mim. E agora? Como resistir a enviar isto à minha cunhada, ilustre membro da espécie aqui observada tão cientificamente??? ;-D

Didas disse...

Não digas é à tua cunhada que fui eu que escrevi! :)

mfc disse...

Não penses que fizeste uma caricatura!!
Fizeste um retrato perfeito desta burocracia que invade toda e qualquer repartição pública!

José Teixeira disse...

Está na hora!

saltapocinhas disse...

Hummm! Fiquei desconfiada: tu conheces BEM DEMAIS essa espécie...até dá a impressão que compartilhas o habitat!
E outra coisa: o japinho está doente ou é da família do coelho da Alice??

Anónimo disse...

Foi a primeira vez que entrei neste Blog... diverti-me muito com o texto do Gaijo Casado... e com este mas estou c/o a saltapocinhas... conheces demasiado bem....