1/27/2006

DOS SALOIOS E OUTROS


O digníssimo velhinho Sousa Veloso (quem se lembra do TV Rural?), falou há uns anitos numa entrevista da arrogância ignorante dos novos profissionais de televisão. Dava como exemplo ter visto, na véspera do feriado municipal de Lisboa, uma apresentadora despedir-se com um sorridente “Até amanhã e bom feriado!”. Terão ficado na altura uns nove eventuais milhões de espectadores a pensar “Feriado, amanhã? Não sabia de nada!”.
Seja ou não fruto de um sentimento de despeito por uma televisão que o dispensou, o cota estava mais certo do que amanhã ser sábado. O pessoal que trabalha nas televisões nacionais demonstra muitas vezes uma ignorância tão saloia do país onde vive e para o qual (supostamente) trabalha que chega a doer.

Ignorância do qual este que se segue não é caso único nem bode expiatório, apenas um exemplo e um espelho da tristeza geral do meio.

O convencidíssimo Jorge Gabriel é useiro em afirmações do tipo “Tão bonito e tão perto de Lisboa! Não há desculpa para não ir até lá!” que deixam por exemplo um habitante de Bragança a pensar baralhado “Mas porque raio eu não tenho desculpa para não ir passear a um sítio por ser perto de Lisboa?”. Mas atingiu o auge numa destas emissões d’O Cofre, ao entrevistar uma concorrente de Faro que trabalhava num museu, quando afirmou com uma boçalidade inacreditável:
-Nós estamos habituados a associar o conceito de Museu a grandes centros urbanos, Lisboa, Porto... quando muito Coimbra, sei lá... mas... Faro???!!! Museu de quê???!!!

Primeiro: Meu caro, Lisboa não é um grande centro urbano. Isso não existe em Portugal. É tudo aldeias. Umas maiores, outras mais pequenitas. A diferença é que um gajo que mora em Freixo de Espada à Cinta não tem a mania que mora no tal “grande centro urbano” e como tal nunca vai sofrer decepções nem fazer figuras tristes.
Segundo: Esqueça essa treta que aprendeu na quarta classe sobre o grande centro que era Coimbra por ter a Universidade mais antiga de Portugal e blá-blá-blá. É de facto um sítio jeitosinho e com os seus encantos, mas em termos de dimensão já não há grande diferença entre a dita e Faro (que, supresa, além de museus também já tem uma universidade e até a porra dum aeroporto! Uau!)
Terceiro: Até a D. Maria, que fabrica doces regionais de figo numa aldeiazinha perto de Faro, já sabe que também em Lisboa há museus. Aposto.

2 comentários:

saltapocinhas disse...

Primeiros: eu gosto do Jorge Gabriel. Passo a maior parte das manhãs em casa, tenho a TV ligada e acho-o excelente a apresentar a Praça da Alegria. entrevista aquelas velhotas todas que lá vão com os netos com o mesmo respeito com que entrevista figuras "importantes". E eu gosto disso.

Segundos: também ouvi essa imbecilidade e também fiquei estarrecida! a minha filha -a quem, tadinha (de mim) acolho temporariamente cá em casa - deu um salto da cadeira e disse "mas este gajo é doido ou pica-se?"! Realmente, triste! Até Aradas tem um museu, acho que já nem deve haver aldeias sem o seu museu (e os museus mais lindos que tenho visto são muitas vezes onde menos estaria à espera!) Só não escrevi sobre o assunto porque a bruxa que tenho de aturar é milhões de vezes pior que a tua e nem tenho tido tempo de escrever no blog! (estou a referir-me a escrever em casa!)
Pronto, perdoa o deslize ao Jorginho: o tipi trabalha toda a semana no porto e depois aos fds grava aquela treta toda de seguida, merece um desconto!

O Pi@d@s disse...

Primeiros: Não gosto do JG porque oo gajo, além de lagartão, é convencido.
Segundos: Didas, a tua padaria tá melhor que nunca!
;-)