4/03/2006

A PRIMEIRA PARTICIPAÇÃO DA PADARIA NA V EDIÇÃO DO ESCRITOR FAMOSO


A MUTILAÇÃO DO SONHO, pela Filha da Patroa

Aqui

Dezassete horas.
Como sempre entrei na sala de cinema com a sessão prestes a começar e, pela décima vez nesse dia disse:
- Pede-se o favor de desligarem os telemóveis e manterem silêncio durante o filme. Pipocas e refrescos vendem-se na entrada. A gerência agradece.
Que emprego tão aborrecido... e eu nem sequer gostava de cinema...
Como não tinha mais nada para fazer sentei-me numa cadeira vazia na fila da frente a descansar as pernas antes de regressar a casa. Acho que quando acabou a publicidade e finalmente começou o filme eu já tinha adormecido. Malditos anti-depressivos!
(...)
Acordei com gritos! Gritos, pânico, choro e sangue a salpicar por todo o lado. Gotas quentes de sangue de criança batiam-me na cara e ouvia-se o som infernal duma serra eléctrica pela sala. Já não havia qualquer filme na tela e a sala estava escura.
Escondi-me num canto e, com a ajuda da lanterna, consultei o folheto que tinha no bolso. Naquela sala, àquela hora, devia estar a passar o “Massacre no Texas”. Oh meu Deus! Eu já tinha visto aquele filme! O homem da serra eléctrica tinha saltado do ecrã!
O massacre continuava. Os gritos eram cada vez menos audíveis. Eu continuava escondida, será que me ia conseguir salvar? À medida que os gritos diminuíam, cadáveres e partes de corpos amputados caíam perto da cadeira onde me encontrava abaixada.
Continuava a ouvir a serra eléctrica, mas as vozes humanas estavam reduzidas a um homem que implorava misericórdia... Uma risada sádica e... ZÁS! Uma cabeça aterrava duas filas à frente da minha.
O homem da serra eléctrica começou então a aproximar-se. Conseguia ver as suas botas cheias de terra que transformavam em sujidade poças de sangue humano.
“Vai-te embora!” – pensava eu... Mas ele continuava ali, agora silencioso. O que estaria a fazer? Eu nem ousava mexer-me. Pelas minhas contas devia faltar uma meia hora para acabar o filme... –“Por essa altura ele deve voltar para a película” – pensei.
Mas eis que, de súbito, a serra eléctrica voltou à acção. Num único movimento cortou todas as cadeiras à minha frente. Eu estava agora a descoberto e ele olhava-me feliz, como se o Natal tivesse chegado mais cedo.
Pedi a Deus que guardasse os meus pais e que fizesse com que o meu noivo morresse também para me encontrar com ele no céu. Preparei-me para morrer. Fechei os olhos e ouvi a serra a aproximar-se. Mais, mais, cada vez mais... até que...
A sala toda rompeu em aplausos.
Acordei.
Tinha sido apenas um sonho.
Pensei, feliz e aliviada, no meu noivo. Mas não, o meu noivo só existira no meu sonho... eu continuava feia e desinteressante e nem o homem da serra eléctrica ia querer casar comigo.
Ainda hoje, sempre que acaba o meu turno ao fim da tarde, sento-me na fila da frente duma sala de cinema à espera que aconteça tudo de novo.

(inspirado no filme "The Texas Chainsaw Massacre", de Marcus Nispel)

3 comentários:

Lúcio Ferro disse...

Belo filme. Prefiro a mais recente versão, salvo erro de 2004. E tu?

Politikus disse...

Estou a ver. Andas a tomar xanax... xiça.

Alírio Camposana disse...

Livra menina isso do massacre no texas não presta para nada.Só um idiota andaria de moto-serra a cortar gente. Era muito mais porreiro usar uma espada samurai, corte limpo, leve e fácil de usar. Além disso não faz fumo nem queima hidrocarbonetos.Quanto a casamentos, deixe lá, um dia, vai ver, aparece-lhe a alma gémea à frente. Eu pelo menos tenho esperança!
Cumprimentos.