3/17/2008

O SIGNIFICADO DA PÁSCOA NOS MEUS ARQUIVOS EMPOEIRADOS

Cresci a odiar a Páscoa. E com o tempo, acabei por esquecer os motivos, só sabia que ao chegar a páscoa, o tempo me sabia a amargo. Então, fui à procura nos ficheiros não classificados e acho que encontrei algumas razões, embora continue incapaz de as ordenar por grau de importância.

1. Lembro-me de perguntar lá em casa o que era a páscoa e alguém me ter respondido que era a celebração da morte de Jesus Cristo. Porra! Da morte? Isso é tão excitante como partir já as duas pernas! - pensei eu.


2. Lembro-me que o padre ia lá a casa e levava um crucifixo gigantesco (pelo menos para o meu tamanho), que toda a gente tinha que beijar. Não só o pessoal lá de casa mas a aldeia inteira. Eu, sabedora dos hábitos de higiene pessoal da maior parte dos habitantes da parvónia, achava aquilo nojento. Não apenas nojento mas nojeeeeeento. Então, todos os anos me fechava no quarto e fazia uma cena. Dizia que me estava a pentear e o cabelo ainda não estava suficientemente liso. A minha mãe respondia que ia mesmo assim e ia JÁ. Ao aproximar a cara daquela cruz de onde pendia um cristo metálico, sentia o cheiro de todas as pessoas que não tomavam banho nem lavavam os dentes e prendia a respiração. A seguir, corria para a casa de banho e cuspia até ter a certeza que me tinha visto livre de todos os germes.


3. Na Páscoa, ao contrário do Natal, havia sempre missas enormes e indolentes às quais eu era obrigada a assistir. Sim, no Natal havia a missa do galo, mas essa era apenas uma lenda para mim porque não havia lá em casa o hábito de a frequentar. Felizmente. Na Pácoa era sempre de manhã e acabava já na hora de almoço. Para o fim, eu já só sentia o cheiro do galo assado que era a refeição dos dias festivos e ouvia o meu estômago a roncar, mal-educado, enquanto o padre debitava coisas incompreensíveis ao ritmo dum disco de vinil de 45rpm a passar na velocidade 33.


Era mau...

4 comentários:

saltapocinhas disse...

ao contrario de ti, tenho excelente srecordações das páscoas da minha meninice.
e tinha 2: uma em vale de cambra, com a familia e outra numa aldeia perto de vagos, no domingo seguinte.
em vale de cambra eu e os meus primos tinhamos a tarefa de andar pelos campos a apanhar umas flores lindas e muito pequeninas com que enfeitavamos a mesa da sala e a porta de entrada.
como era na altura dos morangos, apanhavamos flores e comiamos barrigadas de morangos silvestres.
a visita pascal também era divertida, nesse tempo acho que não tinha nojo de nada! (e o padre usava um paninho para limpar o crucifixo de cada vez que era beijado)

em vagos era tradição o povo seguir atrás do padre...
percorriamos assim toda a aldeia, sempre a comer amendoas e biscoitos em todas as casas onde passávamos.

era bom!!

Poeta de Fermelã disse...

Caros concidadãos da blogosfera, sobre o beijo na cruz e a visita pascal, venho por este meio humildemente convidar vossas excelências a visitar o meu post de 5a feira sobre o retrato fiel de uma visita pascal, com todos os pormenores, desde o beijo na cruz até ao envelope com a oferenda pascal.
Mas é só na 5a feira, hoje não vale a pena porque aquilo está muito murcho. Diz que é do tempo...

bono_poetry disse...

OPA...ESTA FOI DE PARTIR A RIR...


A minha mae sempre me safou da igreja e dos padres...ja as minhas irmas coitadas!!!sempre guardarei boas recordacoes da familia td junta...e eramos mesmo muitos!!!saudades desses tempos...agora ja nem sei quando e a pascoa!!!alias fiquei a saber ha uns segundos!!!

Didas disse...

Caramba Saltapocinhas, isso até parece tirado dos livros da Anita! :)))

Poeta, lá estarei e espero que com tudo mais arrebitado.

Bono, tadinhas das tuas irmãs. Eu compreendo!...