Foi em 1975 ou por aí que pela primeira vez, no sistema de ensino, a disciplina de Religião e Moral passou a ser facultativa. Mas a malta não estava habituada e, se alguns anos mais tarde, as aulas de moral passaram a ter como clientes dois ou três infelizes em cada turma, naquele ano eu era a única em toda a escola que não ia lá. Uma decisão da minha mãe, a atravessar uma fase Testemunha de Jeová, secundada pelo meu pai, basicamente ateu e sem vontade de se chatear com teorias religiosas. A mim deu-me jeito, era à sexta-feira às cinco e meia da tarde. Só que infelizmente dei nas vistas. E algumas professoras, a quem o 25 de Abril não tinha tirado o fervor católico, insistiam comigo em plenas aulas das disciplinas "normais":
-Mas porque é que não andas em moral?
E eu, que tinha vergonha de mencionar o pormenor "Testemunha de Jeová", justificava-me só com o meu pai:
-O meu pai não tem religião professora.
- Está bem, está no seu direito - insistia uma vez a profe de francês indignadíssima - mas não devia impedir a filha de ter uma educação cristã! A tua mãe, não tem uma palavra a dizer?!
E eu, sem resposta, de pé, exposta à turma toda porque tinha ido "ao quadro", imaginei, talvez pela primeira vez na vida, uma coleccção completa de adjectivos e interjeições que não vêm no dicionário, dirigidos à professora de francês. Naquele tempo ainda não se exteriorizavam estes sentimentos em sala de aula, mesmo quando os professores estavam a ser estúpidos.
4 comentários:
O meu professor de religião moral foi um marco na minha carreira de falta de juizo. Desde adormecer em plena aula até agressões a alunos que o acordavam...
Foi assim que me tornei um blogueiro com a mania que tenho piada. Se o meu prof. tivesse sido mais rigido hoje eu seria uma pessoa adulta (não adultera) e votaria tal e qual os carneiros, sempre no mesmo. Assim acabei por virar má rês/ovelha negra/patinho feio/cafageste/etc
Bom feriado.
Eu ainda tive um ano de religião moral, mas no ano seguinte, não obrigado. Nesse aspecto os meus pais nunca me obrigaram a nada. Nem mesmo a fazer a comunhão.
Fermelanidades, achei gira essa associação. Eu não tive nenhum profe assim, por isso não sei dizer o que aconteceu no meu caso.
Geoca, gajo de sorte! Eu só escapei às aulas de moral, de resto levei com os números todos.
A meu ver o estado das aulas de "moral" neste país está muito mau. Não por elas em si mesmas, mas pelo que existe à sua volta.
Como cristão penso que ninguém deve ser obrigado a nada, incluindo no campo religioso. Por exemplo, não vou à missa no domingo porque me alguém me impinge; mas sim porque acredito e me sinto bem. E penso também que sobre esta questão da liberdade não há nada a dizer.
Aulas de EMRC obrigatórias? NÃO!
Aulas de EMRC facultativas? SIM!
E defendo este ponto de vista por uma única razão, que muitos neste país têm tentado mudar: os alunos (ou os pais) decidem se querem ou não a disciplina de EMRC. Se querem são mais 45 min. no horário semanal. E se não quiserem? Cabe, então, às iluminadas mentes no ministério da educação isto. Se um estudante, independentemente do motivo, não desejar aulas de "moral" deve ter outro tipo de aulas.
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