Sendo neta de ribatejano, mas nascida já dentro dos limites dos domínios do “Bê”, a Didas teve o primeiro contacto com a realidade das touradas aos cinco anos de idade, por ocasião da Feira da Golegã. Provavelmente, já as teria vislumbrado na televisão, naquele tempo pouco variada e muito apegada às tradições fabricadas para manter o povo na paz de Deus e na ordem decretada pelo estado, mas a preto e branco e a horas tardias, nada lhe tinha ficado na memória. Daquela vez, porém, era diferente, já que teve a oportunidade de assistir ao vivo, dentro duma arena a sério, a uma corrida. A primeira coisa que a Didas estranhou (embora não muito pois com a experiência adquirida em cinco anos de vida já sabia que a lógica dos adultos não obedece às regras básicas da inteligência), era que ninguém corresse, embora lhe tivessem dito que se tratava duma corrida. Mas o que a confundiu, isso sim, e muitíssimo, foi o sangue, pois nunca até àquele momento se tinha apercebido que qualquer coisa que incluísse o derramamento de sangue pudesse ser considerada diversão, o que prova que nessa idade, ela dispunha ainda duma informação muitíssimo incompleta sobre o mundo dos adultos. A única coisa que a Didas sabia era que quando caía do triciclo ou do muro ou de qualquer outro objecto de brincadeira e esmurrava os joelhos, isso resultava em sangue, e não era de todo uma coisa divertida. Por isso, já bastante confusa com as palmas e “olés” dos adultos, decidiu esclarecer as suas dúvidas, e perguntou à mãe, sentada mesmo ao seu lado:
-Aquilo é sangue???
-Não! – respondeu a mãe bem intencionada – É tinta vermelha!
Talvez essa resposta não tenha piorado a situação, mas também não contribuiu certamente para a melhorar. Porque embora a Didas fosse um pouco distraída, ter-se-ia apercebido da entrada dos pintores em cena. Por isso insistiu:
-Mas onde estão as latas???
-Quais latas?
-As de tinta!!!
E como ninguém foi capaz de lhe explicar sem deixar margem para dúvidas, o truque da tinta que aparecia no dorso dos touros sem ninguém a pôr lá, ou, em alternativa, que maldade imensa tinham feito aqueles animais para serem feridos deliberadamente e haver quem pagasse para assistir, a Didas decidiu nesse dia banir completamente e até ao fim dos seus dias a tourada da sua vida. Não voltaria a entrar num sítio daqueles, não veria na televisão, não se vestiria de sevilhana no carnaval, nem se casaria com um toureiro, nem que ele fosse muito, muito, muito bonito.
Ah, e ficou amuada.
-Aquilo é sangue???
-Não! – respondeu a mãe bem intencionada – É tinta vermelha!
Talvez essa resposta não tenha piorado a situação, mas também não contribuiu certamente para a melhorar. Porque embora a Didas fosse um pouco distraída, ter-se-ia apercebido da entrada dos pintores em cena. Por isso insistiu:
-Mas onde estão as latas???
-Quais latas?
-As de tinta!!!
E como ninguém foi capaz de lhe explicar sem deixar margem para dúvidas, o truque da tinta que aparecia no dorso dos touros sem ninguém a pôr lá, ou, em alternativa, que maldade imensa tinham feito aqueles animais para serem feridos deliberadamente e haver quem pagasse para assistir, a Didas decidiu nesse dia banir completamente e até ao fim dos seus dias a tourada da sua vida. Não voltaria a entrar num sítio daqueles, não veria na televisão, não se vestiria de sevilhana no carnaval, nem se casaria com um toureiro, nem que ele fosse muito, muito, muito bonito.
Ah, e ficou amuada.
2 comentários:
abomino tourada!
e ainda me lembro da primeira vez que vi a cores e vi o sangue!
tal como tu, na tv a preto e branco eu não via sangue e por isso não ficava escandalizada embora não gostasse nada de ver tal coisa!
Pois é, a preto e branco engana muito.
Enviar um comentário