Começou a consultoria. E lá íamos nós xis vezes por semana para uma reunião com o respectivo consultor, a fim de elaborar o plano de criação duma empresa. Aqui, uma das coisas que eu comecei a estranhar foi, por exemplo, perguntarem-me quantos clientes achava que ia ter e ser suposto eu responder qualquer coisa e essa resposta ir parar ao plano. Na verdade eu pensava que era ao consultor que competia fazer o estudo de mercado para saber qual a previsão de clientes duma forma realista. Também me era perguntado assim do nada quanto ia pagar a cada empregado e de que forma os ia contratar, quanto ia gastar em publicidade... Na verdade aquilo era um plano mais parecido com um sonho ou uma utopia, e a função do consultor era apenas pôr no papel, com uma linguagem e uma estrutura próprias, os dados que eu própria fornecia sem qualquer base sólida.
Alguns dias depois de iniciado o processo, chamaram-nos à instituição que coordenava tudo para nos fazer assinar uma declaração na qual nos comprometíamos a pagar todos os custos da consultoria se desistíssemos antes do fim. Como eu, de qualquer forma, não tinha qualquer intenção de desistir pois não ando a brincar com a vida dos outros nem com a minha, assinei na boa.
Mais ou menos a meio do processo e com um ar extremamente consternado, o consultor informou-me de que, afinal, tinha que constituir a empresa antes de saber o resultado da candidatura do meu plano, pois essa era uma das exigências do projecto, coisa que nunca me tinha sido dita antes. As minhas colegas assim fizeram mas eu, ranhosa como sou, disse que nem pensar, que não era isso que estava combinado e que não ia arriscar assim a minha vida como se aquilo fosse uma brincadeira. Eles que tirassem o cavalinho da chuva. Foi nesse ponto que começaram os primeiros conflitos entre mim e as restantes pessoas envolvidas no assunto.
(continua)
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