A verdade é que já ninguém os pode ver nas ruas a arrumar carros, a pedir nos semáforos, a fanar carteiras aos incautos, a mandar as crianças à frente. Nem eu, nem vocês, nem o Durão Barroso, nem a comissária, nem o gajo do Bloco. Ninguém. Da compaixão inicial que sentíamos por um grupo de espoliados que não tem sorte na vida nem arranja trabalho já passámos à fase de saber que há pessoas para quem a miséria é um modo de vida tão natural como para nós é levantar às sete e ir bulir até às seis para ter dinheiro para a renda.
As regras acordadas pelos países da união determinam que qualquer cidadão comunitário pode viver em qualquer país da UE até cinco anos desde que tenha meios de subsistência. Mendigar ou assaltar não são meios de subsistência aceites pelas normas vigentes. Temos pena. Como tal, expulsar os estrangeiros que mendigam não passa objectivamente do cumprimento duma norma.
Estou certa de que se houvesse uma maneira mais elegante de fazer o que está a fazer a França, mais países o teriam já feito. O pior é que não há. O pior é que expulsar cidadãos estrangeiros que vivem da mendicidade não é, na esmagadora maioria das vezes, expulsar alemães, nem austríacos, nem britânicos, nem mesmo espanhóis ou portugueses. É expulsar romenos e búlgaros. Eu sei, isto é chato. É chato como o caraças. Para quem quer ser politicamente correcto (que somos nós todos, os tolerantes europeus) e ainda mais para os romenos e para os búlgaros. Por isso, só um político de atitudes desbragadas e ligeiramente a tender para o tolinho como o Sarkozy teve o desplante de o fazer. Acho que o Berlusconi também teria, obviamente pelos mesmos motivos. Os outros não. Os que fazem questão de ainda mostrar algum laivo de seriedade limitam-se a sonhar como seria bom poder fazê-lo e não ter que levar com os p... líricos do costume que, não tendo a menor vontade de incluir ciganos de acampamento no seu grupo restrito de amigos intelectuais de esquerda, não deixam de condenar vivamente os outros que também não. Mas que tiveram a lata de o dizer.
Margarida Espantada
Há 1 semana
15 comentários:
Seria uma experiência "interessante" para todos aqueles que criticam Sarcozy, levar e conviver, em suas casas, com todos os cidadãos romenos e bulgaros, que não querem trabalhar, que vivem da mendicidade, por vezes violenta, quando, milhões de Europeus trabalham, no duro, e pouco conseguem!...
Zé de Aveiro
Sem dúvida.
Olha de todas as coisas que já li sobre isso neste mundo de blogues o teu foi o que me fez mais sentido.
Posso estar disposto a discutir este assunto convosco. Mas ponho uma condição: não aceito que depois me venham falar no horror do nazismo e no criminoso inominável que foi Adolf Hitler. Nunca ninguém me ouviu clamar contra o horror nazi. Nunca o fiz, porque tenho consciência que os nazis foram pessoas absolutamente normais. Pessoas como nós. É fácil ser hoje anti-nazi e chorar lágrimas de crocodilo sobre o holocausto. Difícil foi sê-lo na Alemanha dos anos trinta ou quarenta. Aí, tudo começou com gente como nós, incomodada com os ciganos e os judeus.
O problema - todo o problema - é que estão a ser expulsas pessoas (pessoas com dignidade igual à de todas as outras pessoas) que não são acusadas de terem cometido crime algum; que não foram julgadas nem condenadas pela prática de crime algum. Estão a ser expulsas pelo simples facto de serem ciganas. E isso, meus caros, É ABSOLUTAMENTE INTOLERÁVEL. É agora que isto tem que ser dito e não mostrar daqui a uns anos um choramingado horror pelos crimes que venham a ser cometidos contra uma etnia.
E daqui - deixem-me antecipar - não se segue que eu goste de ter ciganos a morar no meu prédio ou de os ver a pedir ou a assalta-me na rua. Mas são pessoas. Tão pessoas como eu e com igual dignidade. Cometem crimes? Julguem-se e condenem-se. Julgá-los e condená-los sem crime, NÃO.
Enquanto pessoas produtivas, realmente seria um absurdo a expulsão. Do contrário, concordo com você. Já se tentou fazer coisa parecida em São Paulo, Rio de Janeiro e grandes capitais daqui. O grande problema é que eles sempre voltam, em quantidade cada vez maior - e os imigrantes aqui são nacionais.
Pelo que tenho ouvido e lido, estão a ser "expulsos" os que entraram ilegalmente em França, e ali permanecem na clandestinidade anos a fio criando muitas situações "incómodas" ao País!
Que tal entrarem em Portugal "batalhões" de imigrantes que não produzem rigorosamente nada, o que se iria fazer?
Dar-lhes o rendimento de inserção social, para evitar a "pedinchice"
nas ruas das localidades?
Mesmo com poucos já é um "ataque" permanente, difícil é livrarmo-nos deles, quanto mais em grande
número!...
Lamento mas continuo a apoiar Sarcozy!
Zé de Aveiro
Hyndra, eu tentei fazer algum sentido. :)
Alírio, é por aí. Basicamente eu acho que temos o dever de respeitar todos os imigrantes que trabalham e cumprem as nossas regras. Todas as pessoas têm o direito de procurar melhorar a vida. Ponto.
Funes, vamos por pontos.
1. Não deixa de ter alguma lógica a comparação com a pratica nazi nesse ponto de vista. Embora esteja convencida, sem nenhuma base científica, que depois de tudo o que já passámos e aprendemos, essa história não se repetirá. Estamos apenas a devolvê-los ao seu país de origem. E acho que não passará disso. Não acredito que as pessoas que defendem este procedimento sejam monstros.
2. Não tenho assim tanta certeza que as pessoas estejam a ser expulsas por serem de etnia cigana. Estão a ser expulsas porque não trabalham, logo não têm meios de subsistência, e isso é uma condição para ser residente num país estrangeiro dentro da comunidade. Será que fgoi expulso algum cidadão com contrato de trabalho? Duvido. A verdade é que as pessoas que se dedicam à mendicidade, por questões culturais ou lá o que for, são os ciganos, de facto. E agora?
3. É um facto que a dignidade humana é um valor indiscutível. Mas para que uma pessoa viva com dignidade não basta que os outros lhe reconheçam esse direito. Também é necessário que ela própria se esforce por viver dignamente.
4. Não houve aqui julgamentos. Ninguém foi condenado. Penso eu de que.
Mirian, há imensos imigrantes aqui, de nacionalidades muito diversas. Se vêm para trabalhar tudo bem. Se vêm para trabalhar mas têm azar e ficam desempregados, devem ser apoiados como qualquer nacional. Penso eu. Se comprovadamente só vêm para viver de expedientes, não sei o que andam aqui a fazer. Mas pelos vistos há iluminados que sabem.
Zé de Aveiro, eles não são propriamente "ilegais" porque são dum país comunitário, e como tal só têm que cumprir uma formalidade que é solicitar o certificado de residência por cinco anos, que lhes é concedido desde que declarem sob compromisso de honra que têm meios de subsistência. Eu já passei um certificado desses a uma garota com 4 filhos bebés que só sabia dizer "namorado paga renda". Mas que podia eu fazer? O que está a contecer na França é que eles resolveram aplicar na prática o que mais nenhum país aplica, ou seja, declarou que tem meios de subsistência, não tem, vai embora. Face às directivas comunitárias, é legítimo. Têm o direito de o fazer.
"1. Não deixa de ter alguma lógica a comparação com a pratica nazi nesse ponto de vista. Embora esteja convencida, sem nenhuma base científica, que depois de tudo o que já passámos e aprendemos, essa história não se repetirá. Estamos apenas a devolvê-los ao seu país de origem. E acho que não passará disso. Não acredito que as pessoas que defendem este procedimento sejam monstros."
Didas, estas suas linhas tocam no ponto fundamental de toda esta discussão.
Em primeiro lugar nós nunca aprendemos nada. As suas linhas fizeram-me lembrar a história do meu padrinho. Há uns anos atrás entusiasmou-se com a compra e venda de acções em bolsa. Fartou-se de ganhar dinheiro a comprar acções da EDP e a vender acções da Telecel. Entrou em euforia e, quando aquilo já raiava a loucura, adverti-o, lembrando-lhe a história da quinta-feira negra de 1929. "Ah isso foi noutra época - contestou-me ele - nós agora sabemos muito mais, com a informática e a informação hoje disponível as crises bolsistas já não são possíveis. Suicidou-se, depois de ter perdido uma fortuna.
2- Mas muito mais essencial do que isso é o problema que levanta no final: a sua crença razoável de que os que defendem a expulsão dos ciganos não são monstros.
Não são com toda a certeza.
O problema é que Hitler, que adorava crianças e o seu cão, também o não era. Nem Goering, um artista, patrocinador de ópera, violinista exímio, alma sensível e aberta às emoções da arte.
Repito: nunca disse mal de Hitler nem dos nazis. Não por admirar a sua obra que execro. Mas porque suspeito que dentro de cada um de nós, por muito que a nossa boa consciência queira negá-lo, há um Hitler em potência, à espera das circunstâncias ideais para se manifestar. As épocas de crise reúnem sempre essas circunstâncias. Não por acaso, os ciganos não constituíam um intolerável incómodo quando a Europa vivia na prosperidade e o crescimento económico constante prometia uma felicidade material traduzida no dar tudo a todos. E nessa altura eles já andavam por aí, a pedir e a vadiar, sem meios próprios de subsistência.
Acho que está na hora de relermos todos Hannah Arendt.
Na verdade o que eu acho mesmo é que estamos todos a exagerar na importância que damos a esta história. Para um lado ou para o outro. Expulsar estrangeiros que não estão nas condições regulamentares, sejam elas quais forem, já se faz há muito.
E o Hitler, esse, quer gostasse do cãozito quer não, era uma criatura de duvidosa proveniência genética que já não batia bem quando veio ao mundo.
li comentario nao gostaria ter cigano no predio dele!se fosse dr carlos cruz era na boa?
o pecado nao tem tamanho mas tem consequencias..nem defendam minimamente hittler foi maior porco da humanidade
Enviar um comentário