A senhora à nossa frente na fila do super-mercado era uma senhora como as outras todas. Vamos chamar-lhe, para fixar um padrão reconhecível por todos, "mãe de família". Aquela que imaginamos a empurrar a bicicleta da criança, com rodinhas atrás, ao sábado à tarde no jardim. Aquela que não dá nas vistas, nem para o bem nem para o mal. Nem precisa. A vida dela é dela.
Começou a pousar as compras na caixa e a empregada começou a passá-las pelo leitor de códigos de barras. Até que, no meio de pacotes de esparguete, fruta e detergentes, passou a embalagem de preservativos com sabor a morango pela qual ninguém daria conta a não ser que... a empregada resolvesse chamar a atenção de toda a gente para ela. O que efectivamente fez.
- A senhora sabe os cuidados que deve ter a usar este tipo de artigo? - atirou ela para o ar com a embalagem na mão, que naquele momento se assemelhou a uma bandeira do PNR no meio duma festa africana, pelo menos a mim que nem tinha nada a ver com isso.
- ... Sssssei... balbuciou a senhora que de certezinha nunca tinha imaginado quaisquer "cuidados especiais", nem mesmo os de evitar que toda a vizinhança soubesse que usava preservativos com sabor a morango.
- Muito bem! - continuou a despachadíssima empregada de caixa - Mas também não faz mal perdermos um bocadinho de tempo e eu vou-lhe explicar muito sucintamente.
A partir daí foi um festival de explicações em voz bem alta, para que se soubesse que não era nenhuma analfabeta do latex, sobre a fragilidade e a toxicidade dos produtos que conferem sabor, bem como a necessidade de usar um tamanho adequado ao recheio que a senhora estaria a planear meter lá dentro porque "Está a ver, não leve a mal, eu nem conheço o seu marido!". Já eu e o meu, sei que nos virámos um para o outro e fingimos conversar sobre o ponto de cozedura do pão que estávamos a comprar e outras banalidades para poupar a cliente da frente a mais embaraços do que os que já estava a passar. A senhora ia dizendo que sim a tudo, embora fosse visível que a única coisa que lhe apetecia fazer naquele momento era entrar numa máquina de teletransporte que a pusesse em Marte em menos de três segundos. No fim da tortura, a empregada rematou com um "Sabe que nós temos obrigação de informar os clientes!" e pediu desculpa por aquele bocadinho que lhe tinha roubado, embora não por lhe ter estragado o dia e possivelmente a queca do fim-de-semana. Deve ter sido esquecimento.
E é assim que uma simples ida ao super-mercado dá um post.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
5 comentários:
A funcionária alertou-a por causa daquelas graínhas chatas dos morangos!
Bem visto...!
Ou às tantas eram morangos de estufa...
serviço em condições era dizeres o nome do supermercado e da vendedora também!
Porquê??? Tadinha, ela estava tão orgulhosa do seu trabalho!
A mim ninguém me convence que isto não é inventado. Demasiado bom para ser verdade.
Enviar um comentário