
Com a porcaria que ganhava desde que comecei a trabalhar por conta do estado como funcionária administrativa, nunca poderia ter mandado os putos à escola pois nunca teria dinheiro para os livros nem para o material escolar. Jamais teria comprado o apartamento rasca com maus acabamentos que comprei nos subúrbios. Também nunca teria ido passar uma semanita por ano ao Algarve com a criançada para eles brincarem numa praia sem vento e nos parques aquáticos (cujas entradas são caríssimas). Comprar um Fiat Uno a prestações estaria fora de causa. Almoçar e jantar todos os dias (ou quase todos) em pratos que incluíam carne ou peixe e até fruta era uma extravagância! Dar presentes aos miúdos no Natal é outra coisa que sempre fiz e que estava acima das minhas possibilidades, bem como festinhas de aniversário com bolinhos e rissóis feitos por mim.
Se eu tivesse vivido dentro das minhas possibilidades, ou seja, com o dinheiro a chegar sempre à vontade até ao fim do mês e sem ter que fazer empréstimos múltiplos nem andar a inventar de onde tirar dinheiro para as coisas, a minha vida teria que ser bem diferente. Os miúdos aprendiam a ler em casa ou então não aprendiam, viam os bonecos que também é bom. Comprávamos uma mota Famel Zundapp em segunda mão e levávamos os putos no meio a fazer de sande. Construíamos uma barraca num pinhal com placas de lusalite e uma puxada de água clandestina e à noite lavávamos a cara, as mãos e o pescoço que são as partes que andam à mostra. Como as crianças não iam mesmo ter nada para fazer podiam sempre ir pedir para a porta da sé. Assim podíamos apanhar a camioneta da carreira em Agosto (pelo menos uma vez ou outra) e ir à praia da Barra. Tínhamos era que ir cedo para apanhar um lugar aconchegadinho ao pé do paredão por causa da ventosga. Comíamos batatas com batatas e ao domingo comprávamos uma latinha de salsichas daquelas de marca branca e era uma festa! Com o dinheirito que nos sobrasse íamos ao café beber um dito cujo, comprar um chupa aos garotos e ver a novela.
Por isso está provado, pelo menos eu andei a viver acima das minhas possibilidades, as verdades são para se dizer!
5 comentários:
revejo-me tal e qual na sua situação,se não fosse um ou dois empréstimos onde é que eu e os meus estávamos! As verdades são sempre para se dizer!
São não são? :(
Estes gajos são o máximo, vão-nos esmifrar até ao último "tostão"!
São antidemocráticos, antipatriotas (embora afirmem o contrário) e levam-me a ser antigovernamental!
Acima das possibilidades do País continua esta gentalha a gastar à tripa forra esquecendo-se que o Povo não é tão burro como parece! Amanhã era o dia certo para os atirar para a rua, pelas janelas de S. Bento e Belém! Eu ajudava!
Zé de Aveiro
Eles sabem! Por isso é que se vão esconder!
O texto deu-me um flashback do que era o início dos anos 80 em Portugal.
Enviar um comentário