10/04/2012

As verdades são para se dizer!

Diz-se que nós, portugueses, andámos muitos anos a viver acima das nossas possibilidades. O povo contrapõe que não, mas é mentira. Pelo menos no meu caso é mentira e como eu sou uma espécie de prototipo da pessoa de classe média tuga, acredito que seja mentira na maior parte dos casos. Eu sempre vivi acima das minha possibilidades. Senão vejamos:
Com a porcaria que ganhava desde que comecei a trabalhar por conta do estado como funcionária administrativa, nunca poderia ter mandado os putos à escola pois nunca teria dinheiro para os livros nem para o material escolar. Jamais teria comprado o apartamento rasca com maus acabamentos que comprei nos subúrbios. Também nunca teria ido passar uma semanita por ano ao Algarve com a criançada para eles brincarem numa praia sem vento e nos parques aquáticos (cujas entradas são caríssimas). Comprar um Fiat Uno a prestações estaria fora de causa. Almoçar e jantar todos os dias (ou quase todos) em pratos que incluíam carne ou peixe e até fruta era uma extravagância! Dar presentes aos miúdos no Natal é outra coisa que sempre fiz e que estava acima das minhas possibilidades, bem como festinhas de aniversário com bolinhos e rissóis feitos por mim.
Se eu tivesse vivido dentro das minhas possibilidades, ou seja, com o dinheiro a chegar sempre à vontade até ao fim do mês e sem ter que fazer empréstimos múltiplos nem andar a inventar de onde tirar dinheiro para as coisas, a minha vida teria que ser bem diferente. Os miúdos aprendiam a ler em casa ou então não aprendiam, viam os bonecos que também é bom. Comprávamos uma mota Famel Zundapp em segunda mão e levávamos os putos no meio a fazer de sande. Construíamos uma barraca num pinhal com placas de lusalite e uma puxada de água clandestina e à noite lavávamos a cara, as mãos e o pescoço que são as partes que andam à mostra. Como as crianças não iam mesmo ter nada para fazer podiam sempre ir pedir para a porta da sé. Assim podíamos apanhar a camioneta da carreira em Agosto (pelo menos uma vez ou outra) e ir à praia da Barra. Tínhamos era que ir cedo para apanhar um lugar aconchegadinho ao pé do paredão por causa da ventosga. Comíamos batatas com batatas e ao domingo comprávamos uma latinha de salsichas daquelas de marca branca e era uma festa! Com o dinheirito que nos sobrasse íamos ao café beber um dito cujo, comprar um chupa aos garotos e ver a novela.
Por isso está provado, pelo menos eu andei a viver acima das minhas possibilidades, as verdades são para se dizer!

5 comentários:

rosita disse...

revejo-me tal e qual na sua situação,se não fosse um ou dois empréstimos onde é que eu e os meus estávamos! As verdades são sempre para se dizer!

Didas disse...

São não são? :(

Anónimo disse...

Estes gajos são o máximo, vão-nos esmifrar até ao último "tostão"!
São antidemocráticos, antipatriotas (embora afirmem o contrário) e levam-me a ser antigovernamental!
Acima das possibilidades do País continua esta gentalha a gastar à tripa forra esquecendo-se que o Povo não é tão burro como parece! Amanhã era o dia certo para os atirar para a rua, pelas janelas de S. Bento e Belém! Eu ajudava!

Zé de Aveiro

Didas disse...

Eles sabem! Por isso é que se vão esconder!

kimikkal disse...

O texto deu-me um flashback do que era o início dos anos 80 em Portugal.