É uma tarde de Agosto e a onda de calor varre tudo. Na casa silenciosa, mãe e filha dormem. Apenas se ouve a luta inútil duma mosca que tenta sair, desconhecedora do vidro que a impede, e os miúdos que jogam à bola lá fora. Mãe e filha dormem, abatidas pelo cansaço.
Tudo aparenta paz e pelo corredor, apenas os lençóis ensanguentados e o chão sujo denunciam a tragédia da noite anterior.
Mãe e filha dormem.
Felizmente deu-se a acalmia e mãe e filha dormem.
A mãe, mesmo adormecida, mantém a mão direita sobre a cabeça da filha adolescente que passou a noite, em segredo, a expulsar uma gravidez precoce que não queria e não podia levar adiante. Porque as dores físicas dum aborto improvisado em casa são iguais às de um parto. As outras não. Como criminosas, ambas partilham o silêncio cúmplice.
Para sempre.
Esta é mais uma história moderna.
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