3/28/2007

Um era alto, encorpado. O outro baixo, magrinho e de chapéu na mão rude de agricultor. Ambos de fato de vir à cidade, sinal de que cumpriam uma missão nobre.
- Está aqui o meu "besinho" que "le" pode d'zer qu'é "berdade". Eu "dei-le" "pula" frente, ele deu-me "pu" trás.
- Desculpe... deu?
- Sim, o "tarreno". Eu "dei-le" "pula" frente, ele deu-me "pu" trás. Está aqui a carta que "bocês" mandaram.
Estendeu-me um ofício onde pedíamos esclarecimentos sobre uma diferença de configuração de prédios rústicos.
- Os senhores fizeram escritura de permuta?
- "Num" fizemos nada disso. Eu "dei-le" "pula" frente, ele deu-me "pu" trás, "num" "bamos" "boltar" atrás na "palabra". E eu "trusse-o" aqui comigo para confirmar. "Num" é o que basta?
E nós, os burocratas anestesiados, que dividimos e classificamos o chão que todos pisam em artigos e registos e certidões, a disfarçar de compreensão paternalista a nossa frustração, perante duas almas que ainda acreditam no poder da palavra dada.

2 comentários:

saltapocinhas disse...

Esses ainda são do tempo em que um aperto de mão valia mais que milhentos papéis assinados!

Didas disse...

E em que uma televisão a cores custava apenas 25 contos!...