É sabido que nos tempos históricos em que eu andava na escola, um vinte na pauta era uma raridade e quando tal acontecia, organizavam-se excursões ao local do episódio para ver com os próprios olhos. Por muito que a malta se desfizesse a estudar, por muita graxa que desse, por muito neurónio activo e afinadinho que tivesse, não havia abébias para ninguém. Vinte, diziam os sacanas, era a perfeição. E ninguém é perfeito.
Eu tive um vinte na pauta, posso gabar-me disso. Está certo que não foi totalmente por mérito, mas porra, em tempo de guerra valia tudo!
Foi a Educação Musical. Porque quando cheguei ao ciclo já levava anos de solfejo com professor particular e de levar com a batuta nas mãos se não saíam direitinhas as Czardas do Monte ou a banda sonora completa do “Música no Coração”, antes da professora falar já eu sabia com uma perna às costas o que ela ia dizer. Mas resolvi não dizer nada. Fiz de conta que ia tão virgem na matéria como os colegas que não distinguiam uma clave de sol dum cagalhão. E deu resultado. O espanto da professora era tão grande e tão genuíno perante a facilidade e a intuição com que eu aprendia uma coisa nova que acabei por alcançar o almejado vinte. Mas é claro que também não foi só facilidade. Ninguém podia desconfiar. Tive que treinar ao espelho, durante horas, aquele ar envergonhado e cabeça levemente baixa com que respondia aos elogios na aula.
De qualquer modo penso que terá sido a única fraude que cometi na vida.
Margarida Espantada
Há 1 semana
1 comentário:
ihihihihihihih!
eu sou das que não distingue a clave de sol dum cagalhão, nem devia comentar aqui...
:)
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