Posso dizer verdadeiramente que nada aprendi com aquela mulher além de subterfúgios. Com ela, aperfeiçoámos a técnica de sair pela janela a meio duma aula no mais perfeito silêncio (o que fazíamos em grande escala quando a aula calhava ser na sala do rés-do-chão) e pouco mais. Fazíamo-lo apenas pelo prazer de ouvir depois pela boca dos que lá ficavam, os relatos do ar alucinado da bruxa de cada vez que se virava e via a sala mais vazia sem perceber muito bem como. Era a nossa professora de Antropologia, disciplina de opção do 10º ano, que com ela não tardava a saber amargamente a arrependimento, embora tarde demais.
Durante todo o ano lectivo, só uma vez vi uma aluna enfrentá-la cara a cara, episódio que logo se espalhou como notícia fabulosa por toda a escola e transformou a autora da avaria numa espécie de mito. Foi quando, numa aula horrivelmente maçadora como todas, enquanto se explicava a evolução da espécie humana, a Rosinha bocejou precisamente no instante fatal em que a professora estava a olhar para ela. Imediatamente interrogada sobre a razão de ser de tão ousada atitude e perante o espanto de toda a classe, a Rosinha encostou-se para trás na cadeira e, com o ar de fastio mais genuíno que pôde arranjar, respondeu num tom arrastado:
-Ah Professora, sei lá!... É que, disso tudo que está para aí a dizer, só me interessa mesmo o "homo erectus"!...
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