HISTÓRIA UM
Um dia destes, estava eu na Loja do Gato Preto com o meu marido quando demos de caras com umas caixas de música execráveis. Assim um espécie de cruzamento entre uma bola daquelas de plástico que se abana e se espalha lá dentro uma cena a imitar neve e um ser alienígena que se alimenta de ursinhos e pais natal. A dezasseis euros noventa, ou seja, três mocas das antigas mais qualquer coisa. Depois de termos feito todos os comentários que podíamos fazer ao objecto em causa (que quem é que vai dar dezassete aéreos para ter esta porcaria em casa, que os gajos vão ficar com esta merda toda em stock, que antes queria que me oferecessem um par de peúgas já rotas etc), dirigimo-nos para a fila para pagarmos as velas de fondue. À nossa frente estava uma senhora com uma coisa daquelas na mão e ficámos logo a pensar que devia tratar-se de alguém que tinha acabado de ser tele-transportada para a terra. No entanto, logo atrás de nós estava uma outra senhora que conhecia a da frente e as duas trocaram o seguinte diálogo:
- Oh tão giro! Onde é que foste buscar?
- Estão ali ao pé da montra!
- Vais oferecer a quem?
- À V***! Ela vai adorar!
- De certezinha que vai! Ela gosta tanto dessas coisas! E à P*****, também compras uma?
- Não, para ela já comprei outra coisa.
- Ah então compro eu! Ela vai adorar! Só há assim com anõezinhos?
- Não! Há várias diferentes! Com o pai natal, com ursinhos...
- Ai tão querido! Vou-lhe buscar uma de ursinhos!
Nessa altura, como é habitual, eu já estava a começar a ter um ataque de riso, que é uma coisa de que infelizmente sofro frequentemente nos piores momentos. E o meu marido já estava ao meu lado a dizer-me ao ouvido:
- Didas!!! Controla-te!!!
HISTÓRIA DOIS
Há uns anos atrás, havia uma pessoa a quem eu dava presentes de natal porque não tinha outro remédio. Essa pessoa tinha por hábito dar sempre a alguém os presentes que recebia, e aquilo era um festival, recebíamos coisas com o nome de outra pessoa na etiqueta, recebíamos perfumes de homem sendo mulheres, recebíamos coisas que tínhamos sido nós a comprar no ano anterior... Acho que todas as famílias têm um cromo destes, até mesmo para animar as conversas à volta duns petiscos e duns copos quando ele não está presente. Só que eu, a partir de certa altura, resolvi ir mais além, baralhar, tornar a dar e piorar a situação. Passei a marcar todos os presentes que dava a essa pessoa de forma imperceptível. Por exemplo, se fosse um perfume abria com muito cuidado, punha os putos a escrever bilhetinhos de natal ou aniversário com o nome dela, voltava a fechar muito bem e oferecia-lhe. A partir daí sim, foi o absoluto delírio!