Às vezes lembramo-nos de pessoas com quem já não nos cruzamos há muito tempo. Lembramo-nos delas assim, do nada. Hoje lembrei-me dela, a F******, a cantar uma canção que na altura estava em voga e que de tão tétrica não saía da cabeça de ninguém: "Tenho uma lágrima no canto do olho", não sei se na verdade se chamava assim. Sei que ela gostava verdadeiramente daquela canção. Causava-lhe uma emoção tão forte e genuína que fazia rir toda a gente em volta. Rir porque custava a acreditar que aquilo pudesse causar uma emoção autêntica, mas principalmente porque a F****** era tão dotada para a música, mas tão dotada, que só conseguíamos identificar o tema pela letra. Era como uma máquina de escrever a bater ritmada na mesma tecla: Tenho uma lágrima no canto do olho, tenho uma lágrima no canto do olho... com uma voz de cantar a tabuada dos nove. E nós ríamos quase nas lágrimas, embora a nossa sensibilidade musical se encolhesse de dor.
Será que hoje a F****** também se lembrou de mim? De alguma das minhas histórias patetas que fizeram rir os outros ?
4 comentários:
Você fez-me lembrar o assustador e fascinante que é sermos afectados para sempre por pessoas que por vezes nem fazem parte das nossas vidas, e vice-versa. Uma pessoa que eu mal conheço ou nem conheço diz ou faz qualquer coisa e muda tudo para sempre, sem intenção e sem se aperceber. E é fascinante. E é assustador quando somos confrontados com o inverso, com algo que fizémos ou dissémos sem pensar muito, e que mudou a vida de alguém para sempre.
BOlas, essa foi profunda!
A culpa é sua.
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