CULTURA E LAPSOS INTESTINAIS
Olá queriduchos!
Hoje estava com dúvidas acerca do tema da minha crónica. Tanto me apetecia falar dos lapsos intestinais do meu tio-avô Felisberto como de cultura. Ainda pensei, queridos clientes, em abordar ambos os assuntos na mesma crónica mas como, pelo menos pelo que vejo nos jornais e nas televisões nacionais, são coisas muito parecidas, acabava por ficar um artigo um nadinha para o monótono. Tendo que optar, decidi-me então pela cultura.
Não vou opinar, claro, sobre o que deve ser a cultura ou que políticas se deve adoptar para prosseguir os seus objectivos. A fazer isso já anda muita gente, a maior parte nem uma porcaria dum cacete sabe amassar ou tirar um café com espuma, e eu não gosto de me misturar com desastrados, o que faço é para sair direitinho, graças a deus.
Por isso vou pegar no assunto de outra forma, deixando aqui o meu contributo para a interdisciplinaridade (já que se fala tanto nesta merda e ninguém a pratica) no sistema educativo partindo do mundo da cultura. Eu explico: Pegando no mesmo assunto, vou desenvolver alguns exercícios que podem ser úteis em várias disciplinas, permitindo aos alunos desenvolver ao mesmo tempo os seus conhecimentos na área da cultura. Que tal?
PARA MATEMÁTICA (colaboração involuntária do Jornal Expresso):1.Se a montagem de uma peça de teatro, no D. Maria II, exige um esforço financeiro de 200.000 euros e é vista por 4904 espectadores, quanto dos nossos impostos é gasto com cada espectador?
2.Se a lotação total é de 12.000 espectadores, que percentagem da lotação representam os 4904 espectadores?
3.Se numa peça que foi vista por 2660 espectadores apenas 1017 compraram bilhete, qual a percentagem dos que entraram por convite apenas para mostrar as “péis”?
4.Se a Sala Garrett (também no Teatro D. Maria II), tem 389 lugares e uma ocupação média de 31 a 48 lugares, qual a diferença entre a taxa real de ocupação desta sala e os 65,2% reivindicados pelo director? Mesmo que todas as pessoas fossem muito gordas e ocupassem 2 lugares cada uma quantas seriam necessárias para chegar à percentagem referida?
5.Tendo em conta que o director do D. Maria II ganhava 6.000 euros/mês, quantos euros ganhava por ano? (Não esquecer o subsídio de férias e o de Natal) Qual a diferença entre esse ordenado e o de uma menina do caixa como eu, que apesar de saber ler e escrever e ser uma rapariga atinada ganha o ordenado mínimo nacional?
PARA PORTUGUÊS:Exercício único - sinónimos: Relaciona os conceitos das alíneas a, b e c com as respectivas definições referidas com os números 1, 2 e 3.
a)Otário
b)Chico-esperto
c)Comido e mal pago
1.Indivíduo que consegue convencer outros indivíduos que é um iluminado e assim arranjar um emprego de director de um teatro a ganhar o dobro de um director-geral e que, mesmo nunca conseguindo resultados visíveis, consegue manter-se durante vários anos nessa posição e reunir à sua volta um séquito de apoiantes.
2.Indivíduo que vive em Canas de Senhorim, Alcoutim, Coimbra, Viseu, Aveiro ou Alfândega da Fé, que dá cabo do coiro a trabalhar para ganhar uma porcaria ao fim do mês e ainda vê uma boa parte dos impostos que lhe são comidos a sustentar um pomposo teatro fechado num inacessível palácio na capital, com produções caríssimas, pessoal principescamente pago e praticamente nenhuma receita.
3.Indivíduo que mesmo ganhando uma porcaria de um ordenado e tendo que gastar o coirão a trabalhar que nem uma mula, vem para a rua juntar-se a uma manifestação a favor de um grupo de gajos que não quer perder o tacho, pago com o dinheiro dos impostos de todos.
PARA FÍSICA:
1.Quantos watts iluminam o cérebro de um director de teatro?
2.E quantos iluminam o cérebro dos tolos a quem disseram que a cultura (essa coisa turva que eles não sabem o que é e só viram uma vez ao longe) não tem preço e eles acreditaram?
PARA FILOSOFIA:1.Será que mesmo uma pessoa inteligente e criativa (iluminados não porque isso não existe desde o séc. XVIII) não pode ser um pouco humilde e viver com um ordenado que não tem que ser 20 vezes superior ao mínimo do seu país? Será que em países verdadeiramente cultos (já que se trata de cultura) há um abismo tão grande entre os “iluminados” e os outros todos que permita este tipo de palhaçada? Aquilo a que se chama vulgarmente “em terra de cego…”? Trabalho para casa: Investigar este facto.
E pronto.
Digam lá que eu não me ando a estragar aqui no meio dos brioches e dos cacetes!
Beijo da vossa
Rosarinho